Análise Wolfenstein II: The New Colossus

A ameaça nazista nunca dorme, mas o nosso herói “Terror Billy” também não, e ele está de volta mais uma vez mandando bala com suas armas e trajes futuristas em Wolfenstein II: The New Colossus.

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Numa realidade onde os nazistas venceram a Guerra e tomaram controle do território americano, somente um homem pode enfrentá-los, para isso ele usa de muita e um arsenal completíssimo.

Comecemos pelo óbvio. Este jogo é a continuação de Wolfenstein: (Bethesda, 2014), o jogo meio que responsável pelo revival que os jogos de tiro em primeira pessoa estão passando. O sucesso de Wolfenstein: The New Order foi o gatilho para a produção de outros shooters tradicionais, sendo DOOM o mais relevante aqui, já que essas duas franquias já têm mais de 30 anos.

Iniciamos o jogo após os eventos do final de “New Order”. A introdução retoma o enredo anterior pontuada por um flashback traumático: o destino de William Joseph Blazkowicz será trágico. Wolfenstein II não poderia estar mais distante de seu irmão, DOOM, apesar da estrutura de qualquer jogo de tiro tender a transformar o protagonista em super soldado.

“Terror ” – alcunha de Blazkowicz, conhecido por ser o pesadelo do regime nazista – é um homem assombrado pelo passado de violência na guerra e na infância. Os momentos em que Blazkowicz relembra seu passado está o entre os meus preferidos do jogo e eu não vou descrevê-los aqui pra não estragar a sua experiência. Eu não esperava pela maturidade do conteúdo e partindo do princípio de que este jogo não é adequado pra menores de 18 anos mas que no , qualquer um com 10 anos de idade já joga , por exemplo, imagino que crianças precisarão da supervisão de um adulto caso venham a experimentar esse conteúdo.

General Engel: pesadelo encarnado.

Iron Maiden

Se a revelação das memórias tem potencial pra chocar o jogador, ele não encontrará alento nas outras seções da história. Se a cabeça de Blazkowicz é perseguida por lembranças, no mundo real ele e sua pequena resistência são caçados como terroristas pela General Engel e essa mulher é um pesadelo ambulante. Os primeiros 20 minutos de jogo servem para estabelecer quem é quem na trama antes de tudo engrenar e a maneira como a general é introduzida na trama é de uma crueldade e sadismo impressionantes. Uma pena que as aparições dela não sejam tão frequentes apesar de suas ações serem grandes responsáveis pelo investimento do jogador na trama e tem tudo pra ser lembrada nas próximas gerações assim como o G-man ou o maluco Vaas de 3.

Ferido gravemente no fim da história anterior, Blazkowicz volta a ativa graças a uma armadura que lhe confere mobilidade e o protege relativamente. Uma vez de volta à luta, Blazkovicz executa as missões estabelecidas pela líder da resistência em , Grace Walker para derrubar o regime nazista que controla o que já foi território americano. Um detalhe que chama atenção, e isso deve ter acontecido com quem jogou The New Order, é que a tecnologia do jogo é mais avançada do que aquilo que havia na época, embora essa linha do tempo seja alternativa, armas e veículos chegam a ser futuristas perto do que havia em meados dos anos 60, chegando a lembrar bastante o arsenal da série sendo que até a ambientação é um tanto similar. Acho que isso é comum a todo jogo em que invasores destroem os Estados Unidos.

Tecnologia futurista da década de 60

Estado Violência

Mesmo com essa extrapolação na parte tecnológica, o tempo em que se passa a história é um dos pontos fortes do jogo. Blazkovicz viveu todo o período que antecedeu 1939 e foi testemunha da segregação praticada em seu próprio país. Agora com a América sob o domínio do Reich, Terror Billy vê uma parcela do seu próprio povo sendo conivente com o regime totalitário sob qualquer que sejam os pretextos que pautem políticas totalitárias. Tudo mudou, mas nem tanto.

Essa justaposição de acontecimentos e épocas cai como uma luva no enredo do jogo e é origem de conflitos interessantíssimos que atingem Blazkovicz em cheio – e pelo que se sabe, esses conflitos acertam alguns jogadores também. No fim das contas, Billy precisa lutar contra tudo e todos que tentarem vigiar sua liberdade. Uma pena que temos pouco contato com a sociedade e sua nova rotina sob o domínio nazista (numa das cenas em que isso acontece, há uma situação bastante similar à cena de um certo filme).

Infelizmente, nossa ação nesse mundo se resume às mecânicas de tiro e não sei como um jogo com uma ambientação tão legal poderia fazer algo distinto em sua jogabilidade. Talvez isso seja reflexo da “profissão” de Blazkovicz. Essa definição é inclusive abordada em um diálogo bastante interessante com outro líder da resistência americana que também luta contra o Reich e possui uma visão bastante distinta da que tem nosso “Terror Billy”. Ver o jogo levantar essas dicotomias que muitas vezes não possuem uma resposta clara é bastante satisfatório e confere profundidade ao que poderia ser apenas um jogo de atirar em soldados nazistas.

Be My Frankenstein

De maneira geral, Wolfenstein II: The New Colossus é um jogo de tiro bastante sólido no combate e mesmo esse não sendo o meu estilo de jogo preferido, as ocasiões em que o jogo consegue passar a noção de que somos uma máquina de guerra desenfreada são muito boas pois o resultado quase sempre é uma pilha de corpos mutilados e suas armas todas manchadas de sangue. A parte não tão boa é que a premissa de linha do tempo alternativa leva o enredo para lugares que beiram o fantástico, graças à tecnologia super avançada desse universo a ponto de banalizar certos absurdos ~científicos~, mas uma vez que isso não altera o objetivo central da história, é possível avançar sem se sentir desconectado do personagem ou das motivações da resistência a que você faz parte.

Imagino que aqueles que gostaram do Wolfenstein: The New Order, e dos outros shooters publicados pela Bethesda, já estejam jogando esse título e certamente adorando. Aos demais, eu recomendo principalmente pela história e seus conflitos maravilhosos. É muito prazeroso poder jogar um título com provocações tão maduras e, pra bem ou pra mal, atuais.

Wolfenstein II: The New Colossus foi lançado no PC, 4 e Xbox One. Análise feita a partir de uma cópia da versão cedida pela assessoria de imprensa da Bethesda.

Diego Matias
Além dos reviews, escrevo no Riffs & Solos e faço vídeos com meu irmão no canal SuperContra. Passa lá!