3 anos de The Last of Us Part II: o jogo que ousou ser diferente

The Last of Us Part II: A obra-prima da Naughty Dog que dividiu sua fã base e quebrou completamente as expectativa dos jogadores.

The Last of Us Part II

Em 19 de junho de 2023 completou três anos do lançamento de The Last of Us Part II. Uma data que marca o que, para mim, é o maior jogo de todos os tempos.

E o porquê é bem simples: nenhuma obra nunca falou tanto comigo ou me surpreendeu desta forma.

Em comemoração a essa data tão especial decidi escrever este texto sobre porque esse jogo conseguiu me impactar e porque ele é tão especial e único para mim.

Antes de mais nada, preciso dizer que este texto está repleto de spoilers, então se você nunca jogou, passe longe.

The Last of Us Part II promo art

O Poder do Inesperado

Expor o que sinto por esta obra é muito difícil e jamais imaginei que um jogo seria capaz de fazer isto comigo, mas ele conseguiu.

Foi a maior salada de emoções que eu senti, sentimentos como raiva, felicidade, angustia, dor e sofrimento foram ao limite durante esta jornada.

Alguém de fora deste mundo dos vídeos games pode pensar: “É SÓ UM JOGO CARA, VAI COM CALMA!”. Sim, de fato é um jogo, mas não é, “SÓ UM JOGO”, da mesma forma que Titanic, Poderoso Chefão ou Star Wars não são “SÓ UM FILME”.

Estas obras de alguma forma conseguem mexer com você sem que você perceba o que acontecendo, e esta é a magia do entretenimento, mas assim como estes filmes, The Last of Us Part II vai além da diversão.

The Last of Us II

Nas primeiras horas de jogo você percebe o quão diferente é aquilo que está diante dos teus olhos, mas é durante a jornada de Ellie e Abby que o jogo mostra seu poder.

Perante tantas atrocidades, escolhas e consequências que você presencia, é impossível você não se sentir diretamente tocado com a jornada, seja ela de maneira positiva, ao gostar e ficar imerso naquela história e mundo, ou negativa, com sinal de reprovação as decisões narrativas pesadas que são abordadas.

E sim, eu entendo quem não gostou de determinados acontecimentos, mas falar que não gostou do jogo e pronto é um argumento muito pobre e vazio, diante de temas tão polêmicos que são abordados. É não querer enxergar as qualidades da aventura por que algo específico que não me agradou. Pois, é inegável que nada neste mundo é gratuito, todo ato realizado nele, seja qual for, vem carregado de seu efeito. E a Naughty Dog não tem medo algum de mostrar as consequências das atitudes de seus personagens e de maneira bem clara.

Ao dizer que esta jornada “estragou” vídeo games para mim, é porque ele consegue ser aquilo que não esperava em todos os sentidos, em gameplay muito mais realista, visceral e divertida, ou em narrativa muito mais muito mais profunda e inconsequente, sendo uma roda maluca de acontecimentos que faz você não saber o que esperar em momento algum.

No mundo dos games de hoje, é muito difícil você ser surpreendido de alguma maneira, muito por que seus produtores entregam tudo de mão beijada aos players ou por se basear em uma formula genérica já testada com uma nova roupagem.

Mas é na sua narrativa que ele impressiona, foi aonde ele me destruiu, onde mais falou comigo.

The Last of Us II

A história das protagonistas é algo tão profundo que algumas palavras não fariam jus a complexidade da personalidade de ambas, mas são elas as responsáveis por fazer este jogo algo impar para mim. Elas são o mesmo lado da moeda, exploradas de maneira invertida na busca de vingança. As personagens se complementam praticamente o tempo todo, o que falta em uma, tem na outra, o que uma não faz, a outra fará. É um mix de sentimentos jamais explorado em uma obra para vídeo games.

A Naughty Dog mostra todo seu talento na criação de personagens ao explorar a humanidade e a crueldade delas, é algo tão ambicioso que jamais imaginei que aconteceria, a desenvolvedora mostra que o mundo de The Last Of Us não é sobre Ellie e Joel, apesar de ambos serem os condutores desta narrativa, principalmente o protagonista sendo o ponto catalizador de toda jornada.

Esta aventura é sobre algo mais profundo, mais instigante e provocador.

É fazer você refletir sobre vingança e justiça, saber que toda história aos dois lados e por mais brutal que ela possa ser, é fundamental ouvir e buscar entender ambas, sem preconceitos bobos.

É essa complexidade e originalidade que me fascina e faz com que eu pense se veremos isso novamente, esta coragem de se arriscar e buscar o inesperado, e desafiar o jogador a ir aos limites de sentimentos de empatia e compreensão ao entregar Abby como uma personagem jogável em suas mãos, me faz delirar de alegria ao ver esta “audácia” de desafiar, de pôr em confronto, tirar da zona de conforto, quase que perguntando a você, “E aí, tá com raiva né? Sim, eu estava.

Após 26 horas de sentimentos indo a flor da pele, meus olhos se enchem d’água ao fim da jornada, ao ver todo sofrimento das personagens, lutando contra seus monstros e tentando provarem a si mesmos que ainda são humanas acima de tudo, buscando justiça ou paz de espirito.

E é nesta cena de luta brutal e silenciosa onde as protagonistas mais falam quem são e o que buscam naquele momento, a cena final é de longe minha parte preferida, pois nenhuma palavra é dita e tanta coisa é explicada.

Abby conformada com seu passado e em busca de um futuro melhor, vê em Lev a chance de se redimir com o mundo, de mostrar a uma criança inocente que apesar da humanidade em colapso, ainda tem valor e vale a pena lutar por ele e quem sabe tentar salva-lo.

Abby

Já Ellie, que cega pela sua busca por vingança, quase se entrega totalmente a escuridão, mas vê que seu mundo é mais importante que aquele momento, que seu passado dolorido e traumático com a perda de Joel, ainda pode ser feliz no futuro, onde consegue finalmente se perdoar e entender o destino que lhe foi colocado e provar a si mesma que não é um monstro, muito pelo contrário, ela é muito humana, pois todas suas atitudes que de um certo ponto de vista foram horríveis, são justificados pela dor da perda.

Nada que foi feito pela personagem vinha de seu caráter ou personalidade, mas de um sentimento incontrolável de sofrimento e dor.

Mas é nele, nesta escuridão que ela encontra a luz, para se olhar no espelho e perceber que ela é muito maior que o problema. Alguns disseram que este jogo endeusou Abby e demonizou Ellie, discordo totalmente.

O objetivo para mim é mostrar que apesar de toda brutalidade de ambas, as duas só querem ser felizes ao lado das pessoas que as querem, porém de um ponto de vista invertido, uma caminha para a vingança quanto a outra já obteve a sua, e viu que não foi o suficiente, e agora busca um motivo para continuar.

Vai de você e de sua escolha aonde quer ver a maldade, mas principalmente de sua capacidade de compreensão entender os motivos de ambas, se colocar na pele delas e perguntar se você faria diferente nas duas situações. Ainda dói lembrar da morte do Joel, e fico me perguntando se sou um monstro ao gostar tanto de sua “assassina”, mas eu não tenho que me sentir culpado.

Abby versus Ellie

The Last of Us é sobre pessoas, qualquer pessoa, mais que isso, é sobre o comportamento humano. Claro que eu vi toda a jornada dele então é claro que irei me apegar mais ao personagem do que qualquer um, mas eu sei que ninguém é santo neste mundo, e assim como acontece com todos, toda ação à uma reação, e Abby foi a reação das brutalidades de Joel.

Outros dizem que daria para construir uma história perfeita onde Joel e Ellie caminhariam felizes em algum momento, ou que ele fosse morto como um herói, também discordo! Não existe e nunca irá existir heróis neste mundo, não há ninguém com um buque de flores te esperando por causa de uma boa ação, da mesma forma que não haverá cerimonia quando você estiver a eminencia da morte.

A vida é assim mesmo, dura e solitária, e The Last of Us Part II é a representação clara disto.

Afinal quem é você para dizer quem deve morrer ou não, o que é justo ou injusto, esta narrativa é baseada nisto, toda história a dois lados e você deve ouvi-las, caso contrário você não é tão pior que um assassino por exemplo, que apesar de não matar fisicamente, você mentalmente “assassina” alguém simplesmente por você ser muito orgulhoso ou fechado demais a novas ideias e narrativas, alguém que não gosta de ser confrontado, que a você só sua verdade basta, onde todas as criações devem ser feitas para lhe agradar.

Talvez eu tenha ido longe demais ao falar deste jogo ou talvez não.

Mas é importante isto ser dito, pois mostra até onde eu vou quando penso nesta obra-prima.

Eu ainda poderia continuar escrevendo aqui, mas acho que já foi o suficiente para mostrar o que faz este game tão especial e único.

Sim, eu amo finais felizes e todo mundo merece um, eu acho ao menos, mas fico feliz com as coisas do jeito que elas são, com as dores, sofrimento e poucas alegrias, afinal de contas a vida é assim, e por isso The Last of Us Part II é o jogo da minha vida.