Análise Cobra Kai: The Karate Kid Saga Continues (PlayStation 4)

Cobra Kai: The Karate Kid Saga Continues é um beat ‘em up que nos coloca na pele dos personagens do seriado da Netflix.

Quem diria que após uma tentativa morna de retorno com Jackie Chan, a franquia Karate Kid voltaria a ter bons lançamentos? O seriado da Netflix, baseado no dojo de bullies do filme de 1983, trouxe de volta os antagonistas Johnny Lawrence e Daniel Larusso para continuar a rivalidade que todos pensamos ter ficado pra trás e que inspira o beat ’em up Cobra Kai: The Karate Kid Saga Continues, jogo que teve o estúdio brasileiro Flux Games entre os desenvolvedores.

Canção de Gelo e Fogo

O começo do jogo mostra que o pau está comendo solto entre os dois dojo rivais em All Valley, Cobra Kai e Miyagi Do, só que são os alunos que estão se enfrentando. Miguel, o aprendiz do Johnny Lawrence, recebe um bilhete para um encontro que na verdade é uma emboscada, o suficiente pra que se inicie a campanha desse beat ‘em up que cai como uma luva como produto derivado do seriado.

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É o quê, Johnny?

Após Hawk e Demetri serem mandados para a sala do diretor da escola por causa das brigas, somos apresentados à primeira decisão antes de iniciar a campanha: escolher um dojo. Se você escolher o Miyagi Do, começará a campanha com a Samantha, a filha do Daniel-san e se escolher a Cobra Kai, começa jogando com Miguel e o que muda com isso são os personagens extras que irão acompanhar os jovens durante a jornada pela cidade, todos filiados às suas respectivas academias, claro, além dos poderes dos personagens: os ataques da Cobra Kai são baseados em fogo e ataque primário, enquanto Miyagi Do ensina defesa e contra golpes baseados em gelo. Bem legal.

Bem, todo mundo sabe como é um beat ‘em up e o que Cobra Kai traz de diferente, pelo menos pra mim, são as habilidades dos personagens. Primeiro que elas não custam nada da nossa vida e só precisam de tempo pra serem recarregadas e utilizadas novamente, o que pode parecer fácil demais a princípio mas logo se revela bastante necessário quando passamos a enfrentar vários inimigos ao mesmo tempo. Será preciso dominar essas habilidades e ficar de olho no tempo de espera delas porque os inimigos não perdoam.

O jogo tem uma direção de arte que lembra um pouco o visual low-poly, embora não use essa estética de verdade. Os personagens pareceram, pra mim, um pouco grandes demais na tela, chegando a me dar a impressão de que o jogo estivesse rodando numa tela em proporção 4:3, mas claro, isso é só impressão. Os modelos dos personagens baseado nos atores é um pouco inconstante, com alguns tendo ficado muito bons, como Miguel, e outros nem tanto, como a Samantha, mas no geral o visual do jogo é bastante agradável sendo que esse se trata de um produto derivado que normalmente são feitos com bem menos cuidado.

Karatê não é bagunça

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Levanta, Johnny!

Cobra Kai permite jogar com qualquer uma das academias em modo cooperativo local, bastando para isso, apertar um botão no controle 2. Vale apontar que uma vez em uma partida cooperativa, não é possível remover o jogador adicional, sendo que se o seu companheiro ou companheira de controle precisar sair, será preciso recarregar o último checkpoint.

Um dos aspectos mais legais da jogabilidade são as habilidades dos lutadores que são divididas em dois grupos: personagem e dojo. O primeiro incrementa os movimentos de um personagem específico e o segundo adiciona melhorias que valem para todos os lutadores como golpes mais fortes ou HP extra. É nessas habilidades que está a parte mais divertida da jogabilidade e que faz Cobra Kai estar um pouco acima do nível que ele aparenta à primeira vista.

Quando você começar a dar socos e chutes, vai perceber que o sistema de colisão, e a movimentação dos personagens na tela não são o ápice da tecnologia mas quando der o primeiro “Cobra Uppercut”, vai perceber que não basta apenas bater nos bullies, é preciso fazer isso do jeito mais bonito possível e nisso o jogo capricha. Utilizar as habilidades, além de visualmente gratificante também salva a pele do nosso personagem quando ele precisa enfrentar grupos maiores de inimigos sendo que em último caso, ainda temos uma super habilidade à disposição (que carrega conforme acertamos golpes) pra limpar a tela – é nessa habilidade que iremos ver Daniel Larusso executar um dos movimentos mais icônicos da história do cinema. Melhor que isso, só se ele usasse o quimono branco e a faixa na cabeça.

Existe um certo grau de transposição interativa na relação entre nós e os personagens na tela por se tratar da representação de atores que a gente vê no seriado que torna certos momentos da ação um pouco absurdos, pra dizer o mínimo. Algo que nunca incomodou antes nesse estilo e que atraiu minha atenção foi ver o personagem do Johnny Lawrence (ou Larusso, se você estiver jogando com ele), do alto dos seus 40 e poucos anos, descer a porrada em adolescentes de todos os gêneros e em particular, merendar duas antagonistas femininas na porrada: uma menina que anda de patins (e vai te arrebentar se você não ficar esperto) e uma moça que usa seu telefone celular pra chamar outros inimigos (ela precisa ser despachada com prioridade). Claro que isso faz parte do jogo, mas é difícil ficar impassível quando o personagem do William Zabka pega pelos cabelos uma das personagens caída e esfarela a cara dela no asfalto. Uma boa dissonância pra nos lembrar que jogo e vida real não são a mesma coisa.

Ave Fênix

Cobra Kai não é um jogo perfeito nem vai entrar para o hall dos melhores beat ‘em ups já feitos mas ele possui sim uma camada de cuidado e esmero, principalmente na jogabilidade que vai ficando mais complexa – e mais divertida – à medida que avançamos no jogo. A trilha sonora pode ser um pouco repetitiva e a apresentação dos diferentes tipos de inimigos poderia ser totalmente dispensada, mas como é possível pular tudo o que aparece como extra na tela, não é isso que irá estragar a experiência de jogar.

Vale a pena jogar Cobra Kai? No final das contas, só você poderá tomar essa decisão mas algumas perguntas podem te dar uma orientação: Você é fã dos personagens do filme e do seriado? Você gosta de beat ‘em ups? Você quer um jogo para jogar partidas cooperativas?

Se você disse sim para pelo menos duas dessas perguntas, acho que você já tem a resposta que procura.

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No mercy.

A análise do jogo foi feita com base em uma cópia digital gentilmente fornecida pela assessoria de imprensa do jogo.


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Diego Matias
Além dos reviews, escrevo no Riffs & Solos e faço vídeos com meu irmão no canal SuperContra. Passa lá!