Análise Somerville (PS5)

Somerville é uma jornada de explodir a cabeça em seu final, e que também causa várias explosões mentais para prosseguir.

Somerville

Algo que sempre me atraiu em jogos indies é capacidade deles conseguirem ser algo “único”, mesmo sabendo que não conseguirão atrair olhares da grande massa de jogadores.

Essa peculiaridade para mim, faz toda a diferença nessa indústria de tantas “inspirações”, e de tempos e tempos, sempre sinto a necessidade de buscar algum jogo desta natureza, para me atrair, e novamente despertar a vontade de jogar.

Não sei se é assim para você, mas eu realmente sinto que jogos indies conseguem como ninguém, trazer a definição de o que jogos de vídeo game significam. E foi exatamente assim que me senti jogando Somerville.

O jogo que foi desenvolvido pela Jumpship, tem em um de seus desenvolvedores algo que me chamou totalmente atenção. Dino Patty, ex-CEO e co-fundador da Playdead — que é desenvolvedora dos clássicos Limbo e Inside — e, em Somerville atua como um dos desenvolvedores, e rapidamente dá para notar sua clara inspiração nestes clássicos.

A Terra foi invadida, e agora?

Somerville é um jogo de progressão 2D, mas com um visual em 3D. Altamenta narrativo, mas não verbal, portando, os personagens não falam e com progressão em puzzles. Tudo que é “dito” para o jogador é através do visual ou mecânicas. Além disso, para quem não está muito ambientado com jogos indies, não espere que ele vá explicar demais suas mecânicas ou até mesmo sua história, cabe a você, e seu interesse naquela jornada, entender tudo que está sendo demonstrado.

Somerville

Mas, vale destacar que nada é de outro mundo. Qualquer jogador que tenha jogado qualquer coisa na vida, rapidamente irá se adaptar a estrutura do jogo e será capaz de progredir sem problemas, talvez travando um pouco mais nos puzzles, mas bom, isso faz parte, afinal de contas, os quebra-cabeças estão lá para isso mesmo. O jogo ainda consegue ser muito intuitivo usando de luzes, paletas de cores ou NPC’s para indicar onde o jogador precisa ir ou o que ele precisa fazer.

Narrativa brilhante! Mas não é para todos

Como disse antes, algo que me fascina em jogos deste formato e aqui não é diferente, é a originalidade em que estes desenvolvedores mesmo com tão pouco orçamento, conseguem introduzir seus mundos, contar uma história e brilhar com um desfecho de explodir a cabeça. E assim como suas inspirações, Somerville não faz diferente.

O jogo não perde tempo te introduzindo ao mundo, ou contanto uma preludio com uma bela cutscene. Para falar a verdade, ele faz justamente o contrário, deixando o jogador sob o controle de um bebê, que é filho do casal de protagonistas desta história com quem diz, “agora é contigo”.

Lindíssimos cenários

Caso você nunca tenha visto nenhum gameplay de Somerville, eu recomendo que você vá assim para ele. Tenho certeza que os primeiros cinco minutos desta jornada te causará o espanto necessário que o time de desenvolvimento quer causar nos jogadores.

É muito difícil falar da narrativa sem dar spoilers, e por este motivo eu não entrarei em detalhes. Mas, basicamente o mundo foi invadido por seres de outro planeta que não são necessariamente aliens, mas com capacidade de aniquilação do planeta Terra. Você é um homem casado e pai, que tem a casa completamente destruída durante a guerra, é surpreendido quando um destes “seres” acaba caindo em sua frente, e no ultimo suspiro de vida, passa todo seu poder para seu personagem.

Daí para frente é com você; e falo diretamente com você jogador. Nada deste momento em diante será dado para você de mão beijada, e para progredir você terá que usar a cabeça não somente para desvendar os puzzles do caminho, mas também para entender o que se passa em sua volta.

Somerville

Estrutura que tropeça

Não tenho problemas nenhum com quebra-cabeças em jogos e para falar a verdade eu até gosto de aventuras que usam desta ferramenta para te fazer progredir. Porém, isso se torna um problema quando é usado de forma constante e ás vezes um pouco confusa demais.

Somerville na maioria das vezes é muito competente em dizer o que você precisar fazer, mesmo não te dizendo nada explicitamente, mas, em algumas horas, ele falha demais. Não há problemas em não dizer o que seu personagem é capaz de fazer, mas isso se torna um problema quando o jogador precisa advinhar o que ele é capaz de fazer.

Creio que o imaginário do jogador vai até um limite baseado no que o jogo conversou com ele. Acreditar que o player adivinhará o que seu personagem é capaz de fazer em determinadas situações, é um problema grave.

É difícil falar de um exemplo claro sem citar um spoiler, mas serei obrigado. Imagine que um personagem tem um poder de emitir uma luz que é capaz de desfazer determinadas barreiras, mas em certo momento, somente isso não dá certo. Você tenta e tenta, e nada acontece. Porém, acidentalmente você descobri que ele consegue refletir seu poder através de objetos, para aí sim, você consiga progredir.

Perceba que o problema não é o quebra cabeças. Mas a dificuldade foi baseada em algo que você nem sabia que era capaz. E, isso infelizmente, acontece mais de uma vez e, em certo momentos, envolvendo objetos nos cenários o que torna ainda mais complexa a resolução, já que hora são úteis e hora não.

Somerville

Hoje já existe inúmeros vídeos de Somerville na internet e sempre que um jogador travar em determinada fase, ele pode consultar sua resolução, mas creio que quem jogou em fase de embargo, deve ter sofrido demais, já que realmente o jogo que tanto fala de temas mais complexos de forma tão clara, pisa na bola em sua progressão em vários momentos.

Um visual lindíssimo

Algo que Somerville definitivamente não deixa a desejar é em sua direção de arte que é de jogar o queixo no chão. Uma explosão de critividade em cenários e principalmente nos invasores, que com certeza rende belas fotos. É impressionante o que a Jumpshit conseguiu fazer com tão pouco orçamento. Destaco ainda a iluminação do jogo, que é tão crucial para sua estrutura que dá um show a parte.

Somerville

Ótimo, mas não para todos

Pode ser clichê dizer isso e, particularmente, não gosto de usar este termo, mas ele é necessário em Somerville: dificilmente ele irá agradar aquela parte dos jogadores mais acostumados com jogos guiados e muito frenéticos, oferecendo ação e cenas cinematográficas.

Entretanto, Somerville foi uma experiência que mesmo com tropeços, me trouxe grande diversão e conseguiu me manter preso durante toda sua jornada.

Eu fico triste em pensar que muitos não terão a paciência necessária para investir em jornadas como essa, mas fortemente recomendo para quem gosta desta estrutura de jogo, que com certeza irão encontrar em Somerville uma narrativa que traz emoção, apreensão e um momento de explodir a mente em seu final.

Somerville é um game de quebra-cabeças, cinemático, altamente narrativo e ao mesmo tempo totalmente não verbal. Tudo que ele quer comunicar ao jogador, seja história ou mecânicas, é feita através do visual.

Este tipo de abordagem sem dúvida tem um imenso valor, mas se não for claro, vai apenas empacar e frustrar o jogador. E isso acontece aqui mais do que deveria. Mas comecemos pelo bem bom antes do ruim malvado.

A análise de Somerville foi escrita com base em uma cópia de review gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do game.