Análise Styx: Shards Of Darkness

O goblin Styx volta em suas missões stealth após o sucesso do primeiro jogo e agora com gráficos e jogabilidades ainda melhores, da continuidade à sua jornada, confira nossa análise de Shards Of Darkness.

Mais do que a força bruta, jogos de stealth exigem sagacidade para resolver puzzles em tempo real. Geralmente você controla um personagem frágil em relação aos seus inimigos e é colocado em situações de desvantagem, mas com recursos que, embora limitados, permitem que se torne o dono da situação. O mais recente jogo do goblin Styx, é um prato cheio pros fãs do gênero.

Vídeo games são uma mídia interessante. Inicialmente enraizada na interatividade entre jogador e máquina, evoluiu em tantos outros aspectos que atualmente é possível encontrar jogos para todo tipo de público. First Person Shooters, aventura, plataforma, ação, Point-and-Click, tiro em terceira pessoa, futebol com carros (!), simulação de corrida, corrida com tiros, corrida com luta corporal (o mundo precisa de um novo Road Rash), até mesmo corrida com atropelamento de pessoas inocentes…

Dentro do universo dos games não faltam estilos de jogo e certamente um desses é o seu favorito.

Digo tudo isso para afirmar que um dos meus estilos preferidos, são os jogos de ação furtiva, popularmente conhecidos pelo nome em inglês stealth.

Um personagem dramático? Nem tanto.

É nesse contexto que Styx: Shards Of Darkness está inserido. Desenvolvido pelo estúdio francês Cyanide e publicado pela também francesa Focus Home Interactive, o game de ação furtiva em terceira pessoa, é ambientado em um mundo que mistura high fantasy com um toque de steampunk bastante próprio.

Controlamos o goblin Styx, originalmente apresentado no RPG de ação “Of Orcs and Men”. Um ladrão profissional em missões que envolvem geralmente o furto de algum item fortemente guardado, o que devemos fazer, de preferência, sem sermos detectados. O goblin rabugento e mal humorado é um exímio ladrão e possui habilidades especiais, que o permitem realizar os mais difíceis trabalhos. Styx pode ficar invisível, criar uma cópia de si mesmo e dissolver corpos com ácido, por exemplo.

Ladrão habilidoso.

É possível ainda eliminar inimigos silenciosamente com ataque corporal, dardos (à distância) e ainda apagar tochas para deixar o ambiente no escuro, garantindo um leque de ações amplo o suficiente para que possamos completar as missões propostas, da forma mais variada possível.

No quesito furtividade, o jogo é competente. A movimentação do goblin pelo cenário é bem implementada e bastante fluída. Styx não é o personagem mais ágil dos games (o que traz alguns problemas como se verá mais abaixo), mas pode correr, rolar, escalar paredes e pendurar-se em cordas, tanto para cruzar de um lado a outro do cenário, em sentido horizontal, quanto para alcançar pontos mais distantes, na vertical.

Temos ainda os indicadores sonoro e de luminosidade para informar se fazemos muito barulho ou estamos à vista dos inimigos. Aqui vale dizer que o indicador de luz é inserido diretamente no personagem, tal como em Sam Fisher, nos games da franquia Splinter Cell. Ou seja, se a adaga de Styx está brilhando, fique tranquilo pois você está bem escondido. Uma solução bastante elegante e funcional, que evita a poluição visual da tela. Por outro lado, o indicador de som fica no HUD, e embora essa escolha não seja tão bacana quanto a anterior, é bem discreta e igualmente funcional.

O cenário é todo seu!

Voltando à movimentação, vale destacar que o game apresenta um level design rico, explorando bastante a verticalização dos cenários que estão, quase integralmente à nossa disposição para escalada. Se você pensa que pode chegar até o telhado de uma construção, provavelmente, pode. Digo mais, os cenários, em geral, são bem detalhados, apresentando muitas alternativas de fuga e esconderijo que possibilitam a Styx esgueirar-se pelo cenário com segurança, mesmo em missões à luz do dia.

Desta forma, os melhores momentos do jogo se apresentaram quando planejei a aproximação até o objetivo, com estudo do cenário e movimentação dos inimigos, seguido de uma execução cuidadosa, onde podia usar todo o cenário a meu favor, além das habilidades de Styx, a fim de não ser detectado – exatamente o que se pode esperar de um game de stealth.

Parece que vamos precisar de um bom plano…

Todavia, se por um lado o level design foi bem caprichado, o mesmo não se pode dizer sobre o combate e a inteligência artificial dos inimigos. Além de possuírem um padrão de movimentação previsível, os inimigos por vezes não se importam muito com o fato de encontrar um deles caído pelo chão, dando muito mais atenção quando notam Styx pelo cenário. Nesses momentos, entra em cena um sistema de combate bastante simplificado, limitado à uma espécie de quick time event, onde podemos defender o ataque e, imediatamente, contra-atacar.

E uma vez que isso acontece, abre-se a porteira da frustração. Devido à falta de uma mecânica mais robusta de combate e agilidade para fuga, trechos de maior dificuldade acabam em mortes seguidas enquanto testamos cada nova estratégia até encontrar uma que funcione. Aqui também vale abrir um novo parêntese para dizer que Shards Of Darkness emprestou da série Arkham uma característica bastante irritante: as animações pós morte, que, nas vezes em que estamos fracassando seguidamente, traz aquele desejo de arremessar o controle na tela da televisão ou morder o próprio tornozelo de tanta raiva.

Engraçado. Só que não.

Outro aspecto que deixa a desejar no game é sua narrativa. Logo no início, o jogo faz um gancho com o jogo anterior para introduzir o personagem e rapidamente apresenta a premissa de uma missão inicial (que também serve como tutorial), com uma rápida cutscene. Daí pra frente, a exposição das missões passa a ser realizada apenas pelo texto presente nas telas de carregamento, o que acaba esfriando a conexão do jogador com o enredo apresentado. Embora existam cutscenes e estas possuam qualidade técnica, tanto o enredo como a direção são pouco inspiradas.

Além disso, os personagens apresentados são pouco carismáticos, a começar pelo próprio protagonista. Styx possui tão pouco carisma que chega a ser antipático, ainda mais quando aparece resmungando a cada morte ou fazendo piadas sem qualquer graça no meio do jogo, mesmo tentando quebrar a quarta parede, inclusive fazendo referência a outros títulos, como Dishonored.

Também existe uma aparente falta de conexão entre as propostas apresentadas nas missões, pois mesmo existindo objetivos secundários de coleta de itens, ao mesmo tempo com uma espécie de ranking para quesitos como velocidade no término das missões, menor número de mortes e alarmes soados, não deixando claro se o jogo quer prestigiar o stealth cuidadoso ou a rapidez, e de certa forma, punindo o jogador que elimina os inimigos mesmo sem ser detectado.

Afinal, é pra ir rápido ou fazer tudo?

Ainda assim, Styx: Shards Of Darkness é um jogo divertido, com gráficos muito bonitos, com uma direção de arte que possui certa personalidade, sobretudo nos belos cenários de fundo e construções, e com o gameplay bastante funcional, traz sensações nostálgicas, remetendo à época da primeira trilogia Splinter Cell e jogos de estratégia como Commandos e Desperados, sobretudo quando podemos limpar o cenário, eliminando todos os inimigos de cada fase. No conjunto da obra, o saldo é positivo para os fãs do gênero stealth, mas que devem estar cientes dos problemas existentes, sobretudo em relação à narrativa e combate.

Styx: Shards Of Darkness foi lançado em março de 2017, estando disponível para PlayStation 4, Xbox One e PC.

Tiago Matias Escobar
Metaleiro não uniformizado. Cerveja, pizza, games e viagens ocasionais.