Análise Chronos: Before the Ashes (PS4)

Chronos: Before the Ashes é um RPG de ação com mecânicas únicas, divertido e desafiador na medida certa, mas o desempenho técnico poderia ser melhor.

Chronos: Before the Ashes Logo

Quando Remnant: From the Ashes saiu em agosto de 2019 eu tinha entrado para o Conversa de Sofá há pouco mais de dois meses e estava ocupado escrevendo sobre três outros jogos, e apesar de querer muito colocar minhas mãos em um souls-like de tiro em terceira pessoa, algo diferente de tudo feito no estilo, o meu dia precisaria ter 36 horas, e apesar de alguns Bancos conseguirem essa façanha, eu ainda não tenho esse superpoder, então conseguir conciliar jogar e escrever sobre quatro games diferentes com família, trabalho formal e doutorado em andamento seria impossível.

Apesar disso, Remnant continuou no meu radar por meses e finalmente em janeiro deste ano tive tempo de jogar (e platinar) e afirmo aqui com todas as letras: é uma pena eu não ter escrito sobre ele na época, o game é ótimo.

Então quando foi anunciado que Chronos: Before the Ashes seria relançado para os consoles da oitava geração eu rapidamente solicitei a preferência aqui na redação para ficar a cargo do review dele assim que estivesse disponível, não importando agora se eu estive com 3 ou 4 textos em andamento. Esse erro eu não cometeria novamente.

E sim, Chronos: Before the Ashes é um relançamento.

O game original, chamado apenas de Chronos, foi lançado em 2016 como um jogo de realidade virtual exclusivo para Oculus Rift e conta uma história anterior à vista em Remnant, para ser mais exato ele se passa um mês antes dos eventos iniciais dele. Mas considerando que poucas pessoas (especialmente no Brasil) tem acesso a um Oculus Rift, o game era pouco conhecido pelo público em geral.

Chronos: Before the Ashes árvore
A árvore está de volta

Desenvolvido pela Gunfire Games e publicado THQ Nordic, Chronos: Before the Ashes será lançado em 01 de dezembro de 2020 para PlayStation 4, Xbox One, Switch, Windows e Google Stadia, podendo ser jogado também no e Xbox Series X|S através da retrocompatibilidade de cada um desses consoles.

Explorando o

O primeiro ponto a ser ressaltado é que apesar de ser um prequel, Chronos: Before the Ashes é muito diferente de Remnant, enquanto este último é focado em um combate ritmado regido por estamina usando armas de fogo ou de longa distância, Chronos é uma abordagem mais convencional dentro do filão souls-like, onde o combate corpo a corpo envolve cadenciar o uso ataques, contra-ataques, esquivas e deflexão usando armas brancas, como machados, lanças, espadas, martelos e foices.

Além dessa diferença básica de jogabilidade Chronos é essencialmente um jogo mais simples e com um escopo menor, além de ser uma experiência mais focada, o que para muitos vai ser uma vantagem já que as poucas reclamações que vi a respeito de Remnant eram em como ele podia ficar disperso por conta da natureza procedural da geração de cenários ou como algumas áreas eram bem injustas quando não jogado em co-op.

Chronos não tem componente multiplayer, seja local ou online, e é um jogo exclusivamente single player. As fases foram construídas de forma a direcionar o jogador entre os diferentes cenários em uma ordem específica e sem a temida geração procedural.

Chronos: Before the Ashes pedra de viagem
Pedra de viagem rápida

E apesar da comparação com a série Dark Souls e derivados da From Software ser mais reconhecível logo de cara, Chronos também tira muita inspiração dos jogos da franquia The Legends of Zelda da Nintendo, onde o jogador precisa explorar e resolver uma série de quebra-cabeças para conseguir avançar para a próxima área.

Os puzzles de Chronos: Before the Ashes são interessantes apesar de simples e normalmente envolvem observar o cenário em busca de um código ou padrão que poderá ser usado em algum mecanismo, ou encontrar itens que podem ser testados em diferentes locais de interação. Esses itens podem ser combinados para formar novas peças e não há nenhuma penalidade em testar diferentes associações, se itens não puderem ser juntados o jogador não os perde, apenas é informado que esse arranjo específico não é possível.

Então não se preocupe se não estiver conseguindo avançar em um quebra-cabeças, explore mais e eventualmente você encontrará o item que precisa para que ele faça sentido. O mesmo vale para quando encontrar itens que aparentemente não tem nenhuma utilidade, todo item tem a sua função, assim como toda fechadura tem a sua chave.

Por exemplo, encontrei um saquinho de grãos na primeira área e testei a combinação dele com todo novo item que encontrava sem nenhum efeito. Revisitei o primeiro cenário novamente tentando usar esse saquinho em todos lugares passíveis de interação e nada. Ofereci ele sem sucesso para os NPCs que encontrava. E foi só na área final do jogo que achei o propósito dele.

Chronos: Before the Ashes quebra cabeças
Os puzzles de Chronos são simples, mas interessantes

Tirar um tempo para explorar em Chronos: Before the Ashes é vital. Além dessas recompensas mais diretas o jogador encontra textos e personagens secundários que enriquecem a história e aprofundam o entendimento do mundo, visto que a narrativa é contada de forma indireta e compete ao jogador ligar os pontos dela.

Vamos encontrar as esferas do Dragão

Já no quesito combate Chronos é bem básico e inicialmente o jogador usa um escudo em uma mão e uma arma branca em outra e uma barra de estamina controla o quanto você pode defender ou correr, mas estranhamente essa estamina não é utilizada quando o jogador golpeia ou desvia, uma decisão de design bem curiosa, mas funcional.

As armas podem ser melhoradas através de Fragmentos de Dragão e escalam de acordo com determinado atributo, por exemplo, espadas e lanças são mais poderosas quando a Agilidade for maior, enquanto machados e martelos escalam com Força. Diferente da maioria dos jogos do estilo, em Chronos as armas não são recompensas por derrotar inimigos, mas sim encontradas escondidas pelo mundo.

Logo após a primeira área o jogador passa a ter acesso às Pedras de Dragão, que dão acesso às funções mágicas dentro de Chronos. Existem quatro tipos e cada uma tem propriedades e efeitos diferentes e enquanto a primeira é concedida como um “presente”, as outras três precisam ser encontradas, mais uma vez ressaltando a importância da exploração.

Chronos: Before the Ashes Pedra do Dragão
É vital explorar para encontrar novas Pedras do Dragão com magias diferentes

A barra que controla a magia é preenchida ao derrotar inimigos, desviar de ataques no tempo correto ou ao conseguir defletir e contra-atacar perfeitamente. Quando essa barra estiver completa o jogador pode usufruir de um dos efeitos especiais da pedra equipada, seja adicionando dano elemental aos golpes, ou deixando o jogador invulnerável durante um curto período de tempo, por exemplo.

Interessante notar que apesar dessa magia poder ser usada apenas com a barra cheia, golpes fortes carregados ou contra-ataques após um desvio perfeito garantem um golpe com magia integrada, o que é uma poderosa ferramenta de estratégia.

E estratégia é uma das palavras de ordem em Chronos visto que os itens de cura são limitados, (eu encontrei 4 durante a minha campanha) e apesar deles regenerarem a barra de vida por completo, eles só são reabastecidos quando você morrer, mesmo que descanse em uma Pedra de Viagem Rápida nenhuma cura é reposta.

Por outro lado, os inimigos também só renascem se você morrer, uma vantagem ao viajar entre áreas para explorar com calma e uma desvantagem para aqueles que estiverem pensando em farmar pontos de habilidade.

Chronos: Before the Ashes inimigo mago
Diferente de você os inimigos tem magias que podem ser lançadas a distância

Por falar em pontos, existe uma estratégia ótima que reduz a necessidade desses itens de cura, mas ela é muito focada em risco/recompensa. Cada vez que o jogador sobe de nível a barra de vida é revitalizada, então fique de olho em quanto falta de experiência para o alcançar próximo nível antes de usar um item de cura, na maioria das vezes compensa matar mais alguns inimigos mesmo sendo mais arriscado do que utilizar a cura e depois não ter itens suficientes quando chegar em um dos Chefes e morrer sem nem ter chance de estudar a movimentação deles.

E justamente o elemento que torna Chronos: Before the Ashes único é a forma como ele lida com a morte.

Você morreu, e agora!?

Ao morrer o seu personagem envelhece um ano, como se ao morrer nessa dimensão paralela ele retornasse para o mundo real e passasse um ano se preparando para uma nova . O problema é que ao envelhecer o custo de certos atributos é modificado de uma forma bastante interessante.

Existem quatro status que podem ser melhorados: Força, Agilidade, Arcano e Vitalidade e a cada nível alcançado dois pontos são garantidas para melhorar qualquer um deles. O detalhe aqui é que ao começar o jogo o seu protagonista tem 18 anos e tem ao seu lado a energia da juventude, porém é inexperiente em batalhas. Por conta dessa jovialidade, cada nível de Força, Agilidade e Vitalidade custam um único ponto, já Arcano, que é o atributo ligado a magia e à sabedoria custa três.

Tela de atributos
Ao morrer o personagem envelhece um ano

Por outro lado, ao morrer várias vezes a idade vai chegando e essa vivência de se preparar ano após ano para o combate faz com que o seu personagem se torne mais calejado e sábio, como se aprendesse com os próprios erros, e dessa forma Arcano passa a custar dois pontos quando ele se torna adulto de fato e a partir de uma certa idade o custo passa a ser de um para um.

Contudo, obviamente envelhecer tem o seu preço, você não terá mais a mesma força ou agilidade de antes, e assim o jogo inverte, se agora o status arcano custa pouco, os atributos ligados à juventude que custava, apenas um ponto vão ficando cada vez mais caros.

Essa inversão é muito interessante para tirar o jogador da zona de conforto e valorizar mais a vida. Diferente das mortes em outros jogos souls-like da vida, em que ainda é possível recuperar o que você perdeu, aqui cada morte é significativa e definitiva.

Se morrer muito antes de melhorar Vitalidade ou um dos atributos associados a arma que escolheu é bom se preparar para mudar a forma como joga e aprender a usar a magia Arcana em cada ataque. Não é exatamente uma mudança de build, mas é suficiente para agitar as coisas e deixar tudo mais interessante.

Guardião Pan
Cada chefe em Chronos é bem característico e diferente do anterior

Para equilibrar um pouco a frustração de quem estiver com dificuldades, a cada dez anos a partir dos 20 é possível escolher um entre três Traços que concedem um bônus passivo, como mais dano, mais vitalidade ou uma melhor conversão de energia. É um toque bacana que acrescenta um pouco de luz ao fim do túnel e que pode fazer uma diferença grande quando você está naquele ponto em que está quase matando um Chefe e um pouco a mais de dano já resolveria as coisas.

Vale a pena?

Chronos: Before the Ashes tem conceitos muito interessantes que diferenciam ele de outros jogos inspirados pela From Software e que me fizeram gostar bastante do game, porém a execução deixa um pouco a desejar principalmente no quesito visual e por alguns problemas de performance, pelo menos no PlayStation 4.

E quando falo de problemas gráficos não me refiro ao estilo artístico do jogo. Gosto dessa arte que mistura low poly e cell shading, inclusive um dos souls-like que mais gostei de jogar e escrever para o Conversa foi Ashen, e ele é lindíssimo dentro dessa proposta.

E Chronos receberia esse mesmo elogio se ele não fosse tão inconstante. Algumas áreas são muito bonitas e o visual se sustenta bem, já em outras parece que faltou capricho, além de algumas texturas demorarem a carregar. E apesar de isso não ser um problema muito grave para mim, é um que vale mencionar para vocês.

Outro problema que incomoda são os loadings, cronometrei alguns após morrer ou quando usava a viagem “rápida” e todos ficaram entre 50 segundos e 1 minuto. E apesar desse tempo não ser nada absurdo, ele pode se tornar algo bastante incômodo caso o jogador morra muito.

Golem de Pedra
Os loadings pós morte são um pouco demorados, então se prepare

Felizmente tanto os problemas de textura como os tempos de carregamento podem ser resolvidos através de updates futuros e a Gunfire Games tem um histórico bom em corrigir bugs rapidamente.

No quesito dificuldade Chronos é mais fácil que um equivalente da franquia Souls, por exemplo, e a quantidade reduzida de armas, status e atributos é mais convidativa para iniciantes em jogos desse estilo e a maioria dos Chefes não vai te reter por muito tempo, além disso o game deixa o jogador escolher entre 3 dificuldades diferentes, o que torna ele ainda mais acessível.

A movimentação do personagem me incomodou um pouco no começo, ele parecia pesado demais para um boneco que nem armadura usava, mas depois de melhorar os três atributos relativos a juventude essa movimentação foi ficando mais fluida, então percebi que isso foi feito de forma proposital. Faz todo sentido, achei legal quando notei que isso era uma função e não um defeito, mas pode incomodar quem gosta de uma jogabilidade mais rápida.

Quem jogou Remnant: From the Ashes vai reconhecer várias localidades e inimigos do jogo de 2019 e é muito interessante entender como tudo começou, como o mundo chegou a esse ponto e a importância que algumas ações tiveram para isso.

Vale ressaltar que o jogo está inteiramente legendado e localizado em português, inclusive nos textos dos pergaminhos dentro do jogo, e não me refiro a uma sobreposição do texto em português em cima do pergaminho em inglês, mas sim do próprio documento estar na nossa língua, um charme a mais para que todos possam aproveitar essa história ao máximo.

Uma boa notícia é que justamente pelo escopo menor Chronos: Before the Ashes está sendo vendido na PSN por menos de 150 reais no seu lançamento (R$119,60 para assinantes da ), e por incríveis R$55,96 na Xbox Live, o que para os padrões atuais de preços no Brasil é um ótimo negócio pelo que o jogo entrega.

A análise de Chronos: Before the Ashes foi escrita com base em uma cópia de PlayStation 4 gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do jogo.

Papai Platina
(Pouco) conhecido como Willian. Marido, pai de três filhos maravilhosos, fã de Stephen King, filmes toscos e trophy hunter nas horas vagas. No Twitter como @papaiplatina e willianmarques na PSN.