Análise Fury Unleashed (PS4)

Ambientado em um mundo de histórias em quadrinhos Fury Unleashed é um rogue-lite de ação e plataforma com uma jogabilidade ótima, gráficos cartunescos lindíssimos e bastante desafiador.

Fury Unleashed é excelente.

E embora por razões contratuais eu não possa escrever um review com apenas quatro palavras, essa frase resume a minha experiência com o game, mas será um prazer passar o restante do texto apontando motivos para você colocar as mãos nele o quanto antes.

Fury Unleashed foi desenvolvido e publicado pelo estúdio indie polonês Awesome Games Studio, lançado em 08 de maio de 2020 para PlayStation 4, Xbox One, PC e Nintendo Switch, após 5 anos de desenvolvimento e 3 de early access no Steam, tempo que teve papel fundamental na entrega de um jogo com gameplay tão polido.

E esse polimento está presente em todos os aspectos do título: a jogabilidade é ótima, os gráficos são lindos, a trilha sonora é muito boa, o único ponto que talvez seja um pouco menos equilibrado é a dificuldade.

Fury Unleashed
A customização é boa e é possível escolher sexo, etnia e acessórios

O jogo te incentiva a começar diretamente no difícil e embora esse modo seja bem balanceado, em algumas partes eu senti que as coisas escalam muito rápido.

Por outro lado não há punição em termos de progresso caso o jogador queira diminuir a dificuldade, o único porém é que alguns troféus não podem ser desbloqueados no fácil, então se estiver achando muito complicado, existem opções.

Contra, Rogue Legacy, Dead Cells e Metal Slug entram em um bar

Como Fury Unleashed é um rogue-lite, morrer é uma constante e não importa o quanto você avançou ou quantos cenários terminou, ao morrer voltará ao início.

Felizmente todo o progresso obtido é conservado, então é como se cada jogada fosse uma espécie de treinamento para a próxima, onde o jogador volta mais forte e com mais conhecimento de como abordar certos inimigos.

Se você está já tem experiência com jogos como Rogue Legacy e Dead Cells já sabe o que esperar desse esquema de jogabilidade, inclusive os desenvolvedores apontam esses jogos como influências e fonte de inspiração, além de jogos clássicos de correr e atirar como os da série Contra e Metal Slug, de onde Fury Unleashed claramente tira boa parte da sua inspiração visual.

A ambientação é um ponto de destaque, o game se passa dentro das páginas de uma história em quadrinhos, então toda a estética dos mapas é baseada nos quadros de uma página aberta, o que é muito interessante já que o jogador depois de um tempo consegue ter uma boa noção do melhor caminho até o fim de uma fase.

Fury Unleashed Revista
A estética de história em quadrinhos é bem interessante

Cada página aberta corresponde a um capítulo, cada revista conta vêm com três capítulos e o jogo completo conta com um total de três HQs com temáticas diferentes e uma quarta que é uma espécie de caderno de rascunhos do criador.

Os cenários, disposição de itens e inimigos são gerados proceduralmente, então nenhuma jogada é exatamente igual à outra, apesar de o básico se manter: no primeiro capítulo os inimigos serão mais fracos, enquanto o capítulo 2 e 3 te apresentarão a inimigos mais fortes com a presença de um ou dois mini-chefes e ao final da terceira página uma luta contra um chefão.

Cada revista tem até 3 chefões principais e se o jogador conseguir matar todos os três em jogadas diferentes, essa revista poderá ser pulada caso morra na subsequente, e isso é sem sombra de dúvidas excelente.  Assim não é necessário repetir tudo desde o início da primeira revista caso o jogador perca na última, por exemplo.

Fury Unleashed Hive Queen
Um dos chefões da terceira HQ

Como estamos em uma história em quadrinhos a moeda do jogo ganha ao matar inimigos é representada por gotas de tinta divididas em dois tipos, tinta nanquim usada para desbloquear melhorias na árvore de habilidades ao final das partidas e tinta dourada que o jogador troca por itens durante as fases com NPCs, que diga-se de passagem são fantásticos.

O Sacerdote da Ordem da Tinta Eterna pode conceder bençãos como velocidade de recarregamento ou porcentagem de dano crítico mais alta ou mesmo nada, já que às vezes sacerdotes religiosos costumam prometer mais do que podem cumprir.

Já o Mestre da Tintas desbloqueia armas e armaduras mais poderosas, mas a um custo maior.

Fora os NPCs lojistas existem outros que te passam tarefas secundárias

Ou talvez você cruze o seu caminho com ninguém menos que o Diabo, com quem você pode fazer um acordo e trocar parte da sua vida por benefícios como mais tinta ou itens de cura recebidos ao matar inimigos.

Esses personagens dão uma desacelerada bem-vinda no ritmo frenético de Fury Unleashed, são todos memoráveis e dão um brilho extra à história.

Aliás, caro leitor, agora me dei conta que ainda não falei nada da história em si… e se estou agora conversando diretamente com você é porque estou imitando a narrativa de Fury Unleashed que é justamente centrada na metalinguagem e quebra constante da quarta parede.

Bloqueio criativo

A história gira em torno de Fury, um personagem consciente de que faz parte de uma HQ e que com a ajuda de um guia misterioso chamado Mr. Doodle precisa ajudar o criador da revista, John Kowalsky, a superar as críticas negativas que vem recebendo sobre as suas revistas, que antes eram um sucesso.

Algumas críticas fictícias são tão maldosas que soam perfeitamente reais

Para quem cresceu lendo Turma da Mônica essa consciência de personagens não é novidade, Maurício de Souza já aparecia em vários gibis conversando com suas criações desde mil novecentos e antigamente, a diferença é que aqui Kowalsky está tão desanimado que não quer mais saber da série Fury Unleashed após 20 anos se dedicando a ela, então acima de tudo a luta do seu personagem é também uma batalha pela sua própria existência.

É uma história simples, mas com várias camadas e mais profundamente é um desabafo de profissionais ligados à produção de qualquer tipo de conteúdo em como críticas desproporcionais a um produto podem afetar bastante o seu criador, minando a sua criatividade a ponto de destruir uma obra.

Tiro, porrada e bomba

Mas se apesar desse contexto e história intrigantes você estiver interessado em Fury Unleashed apenas pela jogabilidade saiba que você também estará muito bem servido aqui.

O game é fluido, viciante, frenético e é muito gostoso de se jogar, apesar de ser um pouco frustrante no começo quando o seu personagem ainda não desbloqueou algumas habilidades chaves como mais vida, por exemplo.

O caderno de rascunhos é talvez a revista mais difícil do game

O grande desafio, além de se manter vivo, obviamente, fica por conta de manter seu combo crescendo. Quanto maior ele for mais tinta seu personagem ganhará ao final de uma partida e mais rápido poderão ser desbloqueados os vários níveis das melhorias.

O interessante é que Fury Unleashed não te obriga a matar todos os inimigos de cada capítulo, você pode literalmente correr até o portal do final da fase se quiser e isso pode ser uma boa estratégia para chegar rapidamente aos chefões finais com mais de vida.

Por outro lado a quantidade de tinta obtidas nessas speed runs é irrisória, então essa é uma estratégia para quando se sentir mais confortável com determinados cenários ou quando já tiver evoluído algumas habilidades.

A variedade de armas vai desde armas de fogo e corpo-a-corpo simples, como metralhadoras, escopetas, espadas, tacos de baseball, lança-chamas, armas laser até artefatos alienígenas que disparam enxames ou armas de energia que atiram almas, só para ficar em alguns exemplos, além disso considerando que cada uma pode ter variações aleatórias como dano de fogo, gelo, perfurante, etc. é realmente uma quantidade impressionante, o que confere variabilidade ao gameplay.

Armas que disparam enxames são ótimas para lidar com Chefes

Como cada revista tem uma temática diferente existem inimigos únicos para cada, como morto-vivos tribais no primeiro quadrinho ou nazistas futuristas no segundo, além de um total de 40 chefes, divididos entre mini-chefes e chefões.

Apesar de todas as qualidades, existem dois pontos negativos que valem a pena serem deixados claro para quem se interessar pelo game, mas que de forma alguma tiram o brilho de Fury Unleashed: a ausência de legendas em português do Brasil e de co-op online.

Existe um co-op local e algumas partes mais difíceis claramente seriam mais tranquilas com outro jogador ajudando, mas infelizmente não pude testar essa funcionalidade então não posso opinar sobre.

Em resposta a um jogador no twitter a Awesome Games Studio não descartou a possibilidade de que um modo online possa ser incluído em futuras atualizações, mas deixou claro que não existem planos e capacidade operacional para isso agora.

As partidas são bem rápidas, nesses 7 minutos já estava quase no final do capítulo 2

Mas esses são dois poréns muito pequenos comparados a toda a diversão que Fury Unleashed proporciona e você consegue ver todo o amor colocado pelos desenvolvedores em cada detalhe e que tornam o game incrivelmente bem acabado e desafiador e, com certeza, recomendo muito a compra caso você goste de jogos do gênero.

A análise de Fury Unleashed foi escrita com base em uma cópia de PlayStation 4 gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do jogo.

Papai Platina
(Pouco) conhecido como Willian. Marido, pai de três filhos maravilhosos, fã de Stephen King, filmes toscos e trophy hunter nas horas vagas. No Twitter como @papaiplatina e willianmarques na PSN.