Análise Ghost Recon Wildlands

Em Tom Clancy’s Ghost Recon Wildlands somos levados à Bolívia como parte de uma equipe secreta para combater o Cartel Santa Blanca.

Tudo isso onde o Sol toca é o… altiplano boliviano!

Tom Clancy’s Ghost Recon Wildlands. A última edição da clássica série de ação tática militar sob a marca do lendário escritor não poderia ter um nome mais genérico que Terras Selvagens. Graças à Ubisoft Paris, o jogo é o mais interessante da série desde o original, produzido pela Red Storm antes de ser comprada pela Ubi.

Publicado em março de 2017, o jogo tem o seguinte enredo: um operativo da CIA encarregado de se infiltrar e reportar a movimentação do Cartel Boliviano Santa Blanca foi morto. Na agência, uma operação para vingar o assassinato toma forma sob o comando da agente Bowman que comandará o pelotão Ghost para reunir inteligência, fortalecer a resistência local contra o cartel e derrubar a organização, agora considerada terrorista, que transformou todo o país num Narco-Estado sob a visão e comando de um chefe chamado El Sueño.

Em jogabilidade isso se traduz na escala do mapa que abrange toda as regiões da Bolívia – regiões fictícias, como na Los Angeles de mentira de GTA V – variando de lugares pantanosos e montanhas andinas, ao deserto de sal na parte noroeste do mapa. São 21 regiões, cada uma com seu próprio líder, nas quais teremos que interrogar traficantes, fazer favores para agradar a resistência local e decidir como lidar com as forças armadas do país – chamadas de La Unidad. O mundo aberto é uma das mudança em relação ao jogo anterior, Ghost Recon: Future Soldier junto com a ambientação contemporânea. Não há nada nesse jogo que não seja tecnologia atual. Nada futurista como aquela camuflagem ótica do jogo de 2012, uma excelente decisão já que a gênese da série, ainda que o original se passasse sete anos no futuro, é imaginar cenários hipotéticos de conflito, independentemente dos equipamentos.

Disposable Heroes

A equipe de Reconhecimento Fantasma é formada por Nomad, Weaver, Holt e Midas. Não vale a pena perder tempo decorando seus nomes porque Wildlands não gasta muito tempo expondo ou desenvolvendo suas personalidades além de diálogos um tanto superficiais, para bem ou para mal, e mesmo quando há alguma fala interessante, a legenda não deixa claro quem disse o quê. Seu personagem criado irá ocupar o lugar de um dos ghosts e o foco girará apenas em torno da missão. No equilíbrio entre história e jogabilidade, Ghost Recon Wildlands coloca suas fichas na última opção já que desde o primeiro instante, o jogo permite a inclusão de mais 3 amigos ou desconhecidos para sessões cooperativas, cada um com seu personagem customizado, tal qual em The Division.

À primeira vista Ghost Recon Wildlands é uma mistura de GTA V com Metal Gear Solid V: The Phantom Pain, vários veículos disponíveis – não tem cavalo, o que é uma pena – e um mapa enorme pra cruzar em busca de informações e aos poucos o ciclo de jogo vai revelando um meio termo entre esses dois jogos. A variedade de carros é menor que em GTA mas temos helicópteros e aviões quase sempre à disposição (justo, pois estamos num mapa quase 3x maior que a Los Santos atual). A comparação com o jogo da Konami fica na jogabilidade. Os Ghosts possuem um arsenal comparável ao do Big Boss, porém compatível com o realismo imposto pelo nome Tom Clancy, e o centro das missões se baseia em infiltração furtiva, assim como no jogo de 2015. A parte boa é que, diferente das regiões do Afeganistão e África, a Bolívia é maravilhosa de ser explorada.

É um país!

Ain’t No Mountain High Enough

Começamos no alto de um morro, numa área rural em Itacua, província central na Bolívia. À frente, um imenso vale ensolarado com montanhas ao fundo. O objetivo é interrogar um integrante do cartel a alguns quilômetros de distância e há motos e carros à disposição pra chegar até lá. A graça dos jogos sandbox é poder fazer o que quiser e mesmo isso não sendo exclusividade de Wildlands, você só precisa desmarcar seu objetivo principal no mapa e pronto: tem um país imenso com variadas paisagens à sua disposição. E as paisagens são impressionantes. Biomas distintos compõem o que eu acho que é o jogo com cenário mais variado até hoje, esperando pra ser explorado por terra, água ou ar. Inclusive, recomendo muito que junte seus amigos, arranjem um helicóptero e sigam ao som de Long Tall Sally pra cumprir a missão extra de enfrentar o Predador em Caymanes, o pantanal boliviano, numa homenagem divertida e desafiadora ao maravilhoso filme de 1987.

“Isso não é jeito de um soldado morrer…”

Ainda sobre a ambientação, a paisagem e o modo como a vemos são influenciados por fenômenos atmosféricos como neblina e tempestades tropicais que aumentam bastante a imersão do jogador no cenário. Relâmpagos atrapalham os óculos de visão noturna no momento em que clareiam o céu à nossa volta. As noites longe das cidades são negras e dirigir usando apenas os faróis do veículo é uma atividade das mais desafiantes. Uma pena que não haja opções de posicionamento de câmera nessas horas, uma falta que eu também sinto ao controlar o meu personagem. Por mais que seja simples mudar a opção de mira entre “acima do ombro” e “mira da arma”, a possibilidade de alternar entre primeira e terceira pessoa, como na série Star Wars Battlefront, elevaria ainda mais a imersão principalmente nas muitas áreas de mata fechada ao longo dos morros e vales e nos saltos de paraquedas.

Tá na hora de lavar essas botas!

Espíritu Combativo

A Ubisoft Paris foi bastante perspicaz ao facilitar a obtenção de equipamentos pra que o jogador possa aproveitar o sandbox. O paraquedas é o primeiro ou segundo item a ser desbloqueado e é possível abri-lo pulando até de um barranco um pouco mais mais alto. Helicópteros são facílimos de encontrar e se você seguir as indicações no mapa, conseguirá que todos os pontos de habilidade sejam mostrados nele pra que você organize suas próprias infiltrações com o objetivo de recuperar as medalhas do Cartel que garantem os upgrades. A tela de habilidades parece ostensiva no início mas acostuma-se. Interessante mesmo é a customização do seu personagem. Se em Future Soldier, o foco era o Gunsmith, recurso em que o jogador poderia alterar as várias características das suas armas, em Ghost Recon Wildlands, esse recurso é nativo como em The Division mas o foco está na customização do seu agente. Não há como criar rostos além dos predefinidos, mas após a escolha inicial, temos à disposição óculos, máscaras, capacetes, tatuagens, chapéus, sapatos, roupa usada quem tem? calças, enfim, um guarda roupas temático completo com alguns extras opcionais – também compráveis, claro – pra quem possui jogos anteriores da Ubi: o visual do Sam Fischer, do Future Soldier, The Division e mais recentemente, dos personagens do Predador (1987), lâminas e máscara inclusas. É como voltar à infância e brincar de soldados e alguns acessórios como as vestimentas de camuflagem de vegetação (Ghillie Suits), possuem aplicação prática, pois ajudam a nos manter incógnitos na mata.”

“Stealth”

Welcome to the Jungle

Eu demorei a ser conquistado por esse jogo, confesso. Fiz uma compra reticente apostando no elemento co-op, que eu adoro, e fui sendo vencido a cada partida cooperativa com meu irmão. Recentemente o jogo ganhou o modo multiplayer tático 4×4 numa área bem maior do que o normal – pra 8 jogadores. Ainda estou longe de terminar – entrei na 5ª província, são 21 – e mesmo com uma rádio um tanto inexpressiva perto da trilha disponível nas fitas K-7 do MGSV – We’re the kids in america (Oh! Oh!) – por exemplo, explorar o altiplano boliviano segue sendo mais interessante do que as áreas um tanto vazias concebidas pela antiga Kojima Productions. Mesmo adotando a jogabilidade casual e estando longe de suas raízes punitivas (no primeiro título, levar um tiro era absolutamente fatal), Wildlands incentiva uma ótima experiência tática pra aqueles que se arriscarem nos níveis de dificuldade mais altos e que removam os auxílios na tela.

A série Tom Clancy’s Ghost Recon mudou muito desde 2001 quando era quase um spin-off de Rainbow Six. Chegou a ser a pioneira na sétima geração quando apresentou gráficos magníficos na série Advanced Warfighter e saiu um pouco dos trilhos apostando em tecnologia futurista e jogabilidade linear. Ghost Recon Wildlands é o título que conseguiu equilibrar os elementos clássicos da série – esquadrão de soldados, ambiente aberto, ação tática – com aqueles impostos pelos padrões da indústria e que foram incorporados por ela – visão em 3ª pessoa, drones, sandbox e veículos. Ainda não é o título perfeito (não tem cavalo!) mas definitivamente foi um passo na direção certa.

Diego Matias
Além dos reviews, escrevo no Riffs & Solos e faço vídeos com meu irmão no canal SuperContra. Passa lá!