Análise Ghostwire: Tokyo (PC)

Ghostwire: Tokyo e suas reflexões sobre a morte e a vida cotidiana no Japão

Ghostwire Tokyo

Shibuya é uma região na cidade de Tóquio, um dos principais centros econômicos do mundo e um dos principais centros culturais do Japão. É um local que contrasta as luzes e arranha-céus, com a tradição e prédios do passado. É também, o lugar onde se passa Ghostwire: Tokyo, um jogo de ação e aventura, desenvolvido pela Tango Gameworks e distribuído pela Bethesda.

Um bairro com muitas vozes mudas

Shibuya é um personagem a parte no jogo. Diria que é um protagonista. Ou um coadjuvante que brilha em todos os momentos. Cria a atmosfera que a história necessita. E qual história? Bem, pode ser a história principal, de Akito, um jovem que sofre um acidente e tem seu corpo possuído por um homem de nome KK. Também pode ser a história de uma criança que se perdeu da sua mãe, de um acumulador, de alguém exausto pelo trabalho ou de pessoas com o passado mal resolvido.

Rua inicial do jogo, na cidade de Shibuya
Rua inicial do jogo, na cidade de Shibuya

Cada canto da cidade vai ter uma história que pode te tocar de alguma forma. Os problemas são cotidianos e mostram que por mais diferente uma cultura possa ser uma da outra, a essência humana é a mesma. São contadas por almas, espíritos, formas de energia, o nome não importa. Mas o sofrimento delas sim. Cabe a você ajuda-las a encontrar a paz interior, paz que elas não encontraram em vida.

As missões secundárias tem histórias bem interessantes
As missões secundárias tem histórias bem interessantes

E tudo isso ocorre, enquanto, Akito e KK buscam entender o porquê de todas as pessoas da cidade estarem desaparecidas. Apenas almas e visitantes vagam pelas ruas, que está repleta de itens, placas e documentos que te contam um pouco sobre a cultura e folclore por trás de cada local, de um mito ou de uma lenda urbana. Todavia, isso não significa que a cidade é totalmente destrutiva e todos os prédios são acessíveis. São poucos os edifícios com acesso a exploração, deixando uma impressão de exploração linear para um jogo de mundo aberto.

Uma infinidade de itens estão escondidos pela cidade
Uma infinidade de itens estão escondidos pela cidade

Purifique minha alma

Um nevoeiro impede a exploração em sua totalidade. Para ampliar a área visível no mapa, Akito e KK precisam purificar portões. Esses portões são chamados de Torii, muito comuns em templos xintoístas, um portão que separa o mundo real do mundo sagrado. Os templos e altares guardam Juzu, que são cordões utilizados para contar orações. Akito utiliza os cordões para aumentar suas habilidades e para orar para estátuas Jizo, guardiões que potencializam a quantidade de poder que Akito pode reter. Esse poder é chamado Éter.

Purificar portões Torii é a única maneira de desbloquear áreas no mapa
Purificar portões Torii é a única maneira de desbloquear áreas no mapa

Os portões são guardados por visitantes, entidades vagantes que surgem de pessoas. Cada tipo surge de um tipo de sentimento ou situação. O mais comum, a figura humanoide sem rosto com um guarda chuva, surge de pessoas que vivem a exaustão do trabalho. Outras criaturas surgem de ansiedade, raiva, solidão, adulação no trabalho. No geral eles atacam em grupo e para destruí-los, Akito possui habilidades místicas provenientes da possessão que ele sofre de KK. Alguns Visitantes mais poderosos, conseguem separar o espírito de KK de Akito. Nestes momentos, Akito se defende com um arco e talismãs.

Os visitantes com guarda chuva são os mais comuns nas ruas
Os visitantes com guarda chuva são os mais comuns nas ruas

A energia que gera experiência, vem em sua maioria da purificação de almas perdidas em todo o bairro de Shibuya. Akito e KK utilizam o bom e velho telefone público para enviar estes espíritos a um amigo de KK, chamado Ed. O telefone será utilizado em várias missões secundárias, para receber ou enviar informações. Cães e gatos te ajudam a encontrar estátuas, dinheiro e itens escondidos. Basta dar carinho a eles e alimentá-los.

Cabines telefônicas são a forma de comunicação com os amigos de KK
Cabines telefônicas são a forma de comunicação com os amigos de KK

As luzes te hipnotizam

O visual de Ghostwire: Tokyo é maravilhoso, muito rico, com um forte contraste das luzes neon, com a escuridão da noite. Existe um claro cuidado em transportar parte da cultura e história japonesa em cada detalhe, cada canto dos cenários. A ambientação é magistral, e tudo isso ajudou e muito para que eu explorasse o máximo possível os cenários, entrando nas galerias, metrôs e parques. Contudo, os inimigos espalhados pelo cenário e a exploração com certa linearidade, tornam o jogo repetitivo.

E se as missões secundárias brilham, a história principal deve um pouquinho. Ela não é ruim. A relação entre KK e Akito é muito boa, divertida em alguns momentos. Mas a relação dele com a irmã e o principalmente o desenvolvimento do vilão deixam a desejar. Isso impede que Ghostwire: Tokyo seja um jogo mais amplo. E poderia ser. Tem momentos de brilhantismo, principalmente quando mescla, suspense e ação, com pitadas de terror.

Ghostwire: Tokyo não é um jogo de terror, mas tem seus momentos aterrorizantes
Ghostwire: Tokyo não é um jogo de terror, mas tem seus momentos aterrorizantes

Ghostwire: Tokyo não é para todos os públicos, não é perfeito, mas Shibuya te chama para a noite da lua carmesim. É um jogo repleto de críticas a problemas sociais e modernos. Olha para o passado, vendo o presente e pensando no futuro. A morte no fim das contas, é algo inevitável. E o mundo material cotidiano, seja ele representado por alguém ou por um objeto, pode ser nossa verdadeira prisão.

É o rodo cotidiano
É o rodo cotidiano

 


A análise de Ghostwire: Tokyo foi possível graças a uma cópia digital gentilmente cedida pela assessoria do jogo. Ghostwire: Tokyo também está disponível para PlayStation 5.

João Ibarra
Sul-mato-grossense, mesmo, nunca teve console. Começou jogando no Super Nintendo na casa de amigos. Viveu a era de ouro das Lan Houses jogando CS 1.6 e NFS Underground. Analista de Sistemas, quase Engenheiro da Computação, vendeu a alma para a Steam, é grande fã das franquias Half Life e Max Payne.