Análise Necromunda: Hired Gun (PS4)

Com influências de DOOM e Titanfall, Necromunda: Hired Gun é divertido, rápido, violento, mas sofre com problemas de desempenho no PS4.

Review Necromunda: Hired Gun

Mesmo não gostando do conteúdo clickbait que o Kotaku tem produzido nos últimos tempos, recentemente um texto deles apareceu na linha do tempo do meu twitter e chamou minha atenção. O título, em livre tradução, diz que “Existem muitos jogos da série Warhammer”.

Fiquei surpreso como essa licença tem inúmeros títulos sob o seu guarda-chuva (65 games em 7 anos), e mais espantado ainda por, apesar de conhecer alguns por nome, não ter jogado nenhum deles.

Necromunda: Hired Gun, da Streum On Studio, foi o meu primeiro contato com o universo Warhammer 40K. Mas posso dizer com clareza que não será meu último.

Para quem não conhece a série 40K, ela é um derivado futurista do RPG de mesa Warhammer Fantasy, daqueles em que você pinta miniaturas, organiza exércitos e batalha em um tabuleiro físico de acordo com as regras de cada expansão.

Necromunda: Hired Gun Primeira Fase

Inicialmente inspirado por Senhor dos Anéis, Conan e elementos históricos, a série de livros, tabuleiros e videogames cobre diferentes períodos da ascensão e queda da raça humana devido a inúmeras guerras civis e disputas entre raças pelo controle desse universo sombrio. As obras abrangem desde a fantasia medieval clássica até, como mencionado, cenários ambientados milênios no futuro.

É uma construção de RPG complexa e cheia de nuances, que mereceria um texto só sobre suas particularidades, mas que talvez eu não tenha a competência necessária para escrever, visto que sou um iniciante nessa avalanche de intrigas políticas, magias e tecnologia industrial dividindo a mesma origem.

Mas sobre diversão estou habilitado a escrever. E Necromunda: Hired Gun é diversão no seu estado puro e bruto.

Tecnologia steampunk em Necromunda

Necromunda é um planeta industrial decadente sob o domínio do Império do Homem, e os seus habitantes são os responsáveis por fornecer, assim como outras colmeias (como esses locais são chamados), todo o equipamento de guerra para a luta da causa.

Pense nesse fim de mundo como o mal necessário, a parte feia da sociedade, o verdadeiro submundo do submundo do universo Warhammer, onde o balanço de poder é mantido no limite da tensão. Existe certa ordem no caos e a Guilda de Mercadores cuida para que a luta entre as muitas facções, que habitam esse barril de pólvora, seja mantida sob controle. A Guilda não é neutra, e de forma velada favorece diferentes lados dessa disputa em ocasiões distintas, conforme seus próprios interesses.

Mesmo assim, por ser a última linha entre a lei e a anarquia total, o consenso é que ninguém interfere nos assuntos da Guilda. Exceto, claro, quando alguém resolve interferir. E é aqui que o seu personagem entra na jogada.

Martyr's End

No papel de um (ou uma) mercenário você precisa descobrir e coletar a recompensa por quem quer que tenha sido louco o suficiente para matar um dos integrantes dessa Guilda, eliminando qualquer um que ficar entre você e a verdade.

Muita história? Sem problemas, você pode ignorar ela se quiser sem muito prejuízo.

Apesar da ambientação interessante e cenários colossais fantásticos, a forma como essa narrativa é contada através de textos no início das fases, diálogos com NPCs e suas dublagens exageradas (principalmente do seu personagem) fez com que eu não conseguisse permanecer focado muito tempo nela. Depois de um tempo eu não estava ligando para quem apontava a arma, eu só queria atirar. Além disso, o game não possui legendas no nosso idioma, então provavelmente essa parte já seria deixada de lado se você não dominar o inglês.

Mas onde Necromunda: Hired Gun se paga mesmo (ou deveria) é na jogabilidade.

Necromunda: Hired Gun Tron?

É impressionante como uma desenvolvedora indie, mesmo que sob a asa financeira da Focus Home Interactive, conseguiu fazer um combate de tiro em primeira pessoa tão divertido e sanguinolento, pegando emprestado de DOOM Eternal o ritmo frenético, movimentação constante e o uso de um gancho para se deslocar verticalmente (que pode ser usado em combate), além de influências de Titanfall, e seus dashs deslizantes e corrida nas paredes. Também existe um sistema aos moldes de Bloodborne, onde é possível recuperar vida logo após sofrer dano caso você consegua matar inimigos, incentivando a agressividade.

Se você não leu a minha crítica sobre Biomutant, nela especulo como a ambição em querer entregar um game que seria várias coisas ao mesmo tempo fez com que os desenvolvedores mordessem mais do que poderiam mastigar, com seu time e orçamento diminutos. Hired Gun também foi feito por uma equipe pequena e duas coca-colas de investimento, mas será que ele caiu na mesma armadilha?

Necromunda: Hired Gun tenta ser DOOM Eternal? Sim, fica claro a influência.

Ele quer ser Titanfall? A ideia do wall run não é exatamente nova, mas Titanfall pegou o conceito emprestado de Prince of Persia e aplicou em um jogo de tiro, então sim, a resposta é sim. Além disso, apesar da marginalidade social das colmeias ser característica do universo Warhammer, ela me lembrou muito os jogos da série METRO.

Necromunda: Hired Gun Caveiras para todos lado

É ambicioso mirar tão alto e ter tantas referências de peso. Isso poderia facilmente estragar o game e esse review conteria críticas muito parecidas às que fiz a Biomutant. A diferença é que o combate de Hired Gun é muito mais gostoso de jogar que o título da Experiment 101, mesmo tendo também a sua dose de problemas de performance. Aliás, é no combate que os maiores problemas do jogo se concentram.

Apesar disso, usar o gancho para arrancar o escudo de um inimigo, emendar uma execução corpo a corpo (que poderia ter uma animação mais lenta para entender o que está acontecendo), atirar em outro com uma .12, explodir a sua cabeça como se fosse uma melancia e usar seus poderes biônicos para evaporar um grupo de bandidos é muito satisfatório.

E se as coisas apertarem, você conta com a ajuda de um companheiro canino, que marca os adversários no cenário e que com alguns upgrades bio-mecânicos se transforma em uma máquina de estraçalhar (mas que gosta de um carinho de vez em quando). Basta apertar um brinquedinho de pelúcia para chamá-lo para lutar ao seu lado.

Nunca me cansei de chamá-lo e nunca deixou de ser engraçado o barulho que o bichinho faz.

Necromunda: Hired Gun Fase 12

As armas são um show a parte, bem distintas e com pesos diferentes, elas roubam a cena muitas vezes com seus tiros explosivos, energéticos ou apenas de chumbo grosso mesmo. Independente da escolha, achei que todas foram gostosas de usar e variei bastante. Ajuda elas serem totalmente customizáveis também, podendo ser adquiridas em baús escondidos nos cenários ou compradas em Martyr’s End, o bar que é a sua base em Hired Gun, e para onde você retorna ao final de cada uma das treze missões do jogo.

Além da customização das armas e do seu doguinho, existem várias evoluções que podem ser aplicadas ao seu personagem, gastando a grana recebida nas missões principais ou nos contratos secundários de facções. Esses upgrades abrangem transformações básicas como mais saúde ou um escudo de energia maior, até a aplicação de implantes biônicos que concedem poderes variados (um deles literalmente esmaga e evapora os inimigos, lindo e grotesco de se ver) ou vantagens que podem ser utilizadas durante o combate, como super força ou mira automática em vários alvos.

Seria tudo maravilhoso se não fosse a performance muito abaixo da média que Necromunda: Hired Gun tem atualmente no PlayStation 4.

O dogão é mau

Felizmente o update 1.03, que saiu antes da publicação desse review consertou muitas das coisas que estavam ruins, mas ainda não está adequado para públicos mais exigentes. Os desenvolvedores prometeram novos hotfixes, o que demonstra que pelo menos eles estão ouvindo as queixas dos jogadores. Isso me dá esperanças que atualizações futuras possam melhorar as constantes quedas de FPS, travamentos, crashs e algumas texturas meio borradas que não existem com tanta frequência na versão de PC, por exemplo.

Claro, versões de computador sempre terão uma fidelidade gráfica maior que a de consoles, mas não é como se ele tivesse gráficos ultra-realistas que exigissem tanto assim para justificar essas falhas, que pioram muito quando vários inimigos surgem no cenário, atrapalhando de forma sensível o ritmo de combate frenético e difícil que o jogo tem.

Hired Gun precisa de novas atualizações e merece isso por todo o potencial que tem. Quando isso acontecer, serei um dos primeiros a recomendá-lo, visto que gostei muito do que ele oferece. Mas até lá você está por sua conta e risco se quiser embarcar nessa aventura.

A viagem é divertida, mas por enquanto a estrada está cheia de buracos.

Necromunda: Hired Gun Inimiga Principal

A análise de Necromunda: Hired Gun foi escrita com base em uma cópia de PlayStation 4 gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do game. Também disponível para Windows, Xbox Series, Xbox One e PlayStation 5.

Papai Platina
(Pouco) conhecido como Willian. Marido, pai de três filhos maravilhosos, fã de Stephen King, filmes toscos e trophy hunter nas horas vagas. No Twitter como @papaiplatina e willianmarques na PSN.