Análise Prince of Persia: The Lost Crown (PS5)

Prince of Persia: The Lost Crown é um retorno triunfante da franquia e uma experiência necessária para abrir seu 2024 com chave de ouro.

Review Prince of Persia: The Lost Crown

Sempre que penso no tamanho que a mídia videogames alcançou eu me assusto. Me espanto porque quando comecei a me apaixonar por eles lá no Super Nintendo, jamais imaginei que seria uma indústria tão grande e principalmente, tão popular.

Em contraponto, também questiono muitas vezes se essa indústria, ou melhor, a indústria do hype é mais famosa (ou mais importante) que a mídia em si. É comum a internet gerar muito movimento e barulho sempre que um lançamento de uma franquia renomada — ou de um estúdio grande — se aproxima.

Porém, fama, hype ou popularidade nem sempre refletem em qualidade. E, por que estou abordando isso?

Na sua gênese jogos eram muito simples, devido muito mais a questões técnicas, limitadas por hardwares primitivos, do que à criatividade. Com a evolução das técnicas e equipamentos novos horizontes se abriram, nossas possibilidades e com isso vários novos gêneros de jogos passaram a existir.

E sabe qual era um dos gêneros mais comum nos meados dos anos 80 e quase toda a década de 90? Metroidvanias — que naquela época nem tinham esse nome. E quando algo faz sucesso é comum e habitual que uma avalanche de games baseados no estilo ou com algum tipo de inspiração nele sejam a norma.

Atualmente, o gênero passa por um revival, com exemplos que ganham a atenção da mídia como Ori, Hollow Knight, Blasphemous e diversos outros, mas também é um fato que é um estilo que passa longe dos radares da maioria dos jogadores, mesmo que em muitos casos, eles sejam muito melhores que os jogos de mundo aberto genérico  ou GaaS que a indústria do hype alimenta e engorda.

Esse é, por exemplo, o caso de Prince of Persia: The Lost Crown.

O novo jogo da franquia, depois de 14 anos, desenvolvido pela Ubisoft Montpellier, a mesma da série Rayman, apostou em um retorno a sua raiz para a sua volta e, após finalizar e passar mais algumas horas com o jogo, eu posso confirmar com muita tranquilidade que não existiria uma forma de retorno melhor.

Desde de seu anúncio, este jogo ficou em meu radar, pelo simples fato de ver algo diferente, principalmente vindo da Ubisoft, da qual em minha opinião, anda ruim das pernas com a forma que vem tratando suas principais IP’s. Eu sempre acreditei no retorno da franquia, mas sempre pensei que viria aos moldes daquilo que a empresa vem fazendo — o que para alguns poderia não ser algo muito desejado.

Então ver algo neste proposta não só trouxe uma imensa expectativa, mas esperança que seria um bom jogo. Mesmo vendo algumas reclamações já habituais dos ditos “gamers”, por achar que um jogo não ultra realista não merece o devido valor, porém, eu tinha convicção que não iria me decepcionar.

Do que se trata?

Se existe algo crucial em qualquer mídia é sua apresentação. A primeira hora em muitos casos, acaba sendo mais importante que todo o restante. E a desenvolvedora sabia disso e consegue logo em seus primeiros vinte minutos mostrar que apesar da proposta de um jogo “menor”, Prince of Persia: The Lost Crown tem sim um grande valor de produção com uma animação de modelagem de personagem e combate de cair o queixo, um gráfico muito colorido e vibrante, e o principio de um combate extremamente promissor.

Prince of Persia: The Lost Crown

Sob o controle de Sargon, um ser conhecido pela população persa como um guerreiro “imortal” e aliado com seu outros seis irmãos de vivência, buscam libertar a população das garras de um governo ditador que leva o caos e a fome para toda região. Apesar deste ser o tema inicial, o tema politico local, acaba sendo somente o ponto de partida após o príncipe da cidade ser sequestrado e levado para uma terra perdida e supostamente amaldiçoada.

Eu não gosto de entrar em detalhes de história pois temo dar spoiler, então citarei somente a premissa do ponto de partida. Mas é dali em diante, que a vida de Sargon mudará completamente ao descobrir a verdade sobre a família real, seus irmãos imortais e sua verdadeira origem e valor.

Eu confesso que não esperava muita coisa da narrativa, mas devo salientar que ela conseguiu me entreter e, em alguns casos, até me surpreender. Isso graças também aos personagens extremamentes carismáticos e cheios de personalidade que o jogo consegue criar. São tão bons, que fiquei até triste pelo pouco proveito que alguns tem.

O trabalho da Ubisoft Montpellier é tão bom, mas diferente das grandes produções, não existe animações para os diálogos exceto em alguns momentos. Todas as conversas em sua maioria é baseado em quadros, idênticos ao de Hades. Mas, graças a uma brilhante atuação de voz, os personagens da aventura ficam marcados durante toda jornada e faz você se importar com cada um, até quem não mereça tanto apreço.

Artaban em Prince of Persia: The Lost Crown

O simples que tem muito valor

Prince of Persia não reinventa a roda dos jogos metroidvania e falando sério, nem precisa. Eu sou o tipo de pessoa que o simples bem feito tem muito valor e é exatemente nisso que o time de desenvolvimento aposta. Sua estrutura se baseia no simples, como desafios de plataforma, combate frenética e claro, muito vai e vem. Mas é como ele faz, que faz tudo brilhar.

Não é novidade para ninguém que a franquia sempre usou o elemento “volta no tempo”, como ferramente de locomoção e combate, e aqui não é diferente. Mas, não lembro quando vi isso sendo utilizado em um jogo de plataforma.

Em seu início os desafios são simples, que não vai exigir muito do jogador, mas conforme o jogador avança e habilidades são liberadas, os desafios aumentam, exigindo do player em alguns casos maestria sob o controle do personagem. E não espere que o jogo irá pegar em sua mão e dizer o que você deve fazer. Claro que através de seu mapa, ele sempre aponta onde ir, mas os desafios precisam ser vencidos pelo jogador. Caso tenha dificuldades, você irá travar. Mas friso que qualquer um consegue, uns com mais facilidade que outros, mas passa longe de ser um fator que afaste jogadores.

Sessões de plataforma desafiadoras

Como dizia antes, as possibilidades de volta no tempo abrem desafios de plataforma quase infinitos, e o estúdio estava muito inspirado, porque não é só divertido vencer os desafios, é bonito graças a belíssima animação empregada.

Ainda vale salientar que o jogo possui muitas habilidades que são adquiridas conforme você avança na história, e isso traz um balanço perfeito durante toda jogatina, pois não traz a sensação de cansaço, afinal de contas o jogo está sempre te apresentando algo novo, uma brincadeira nova.

Combate fluído e lindo!

No primeiro inimigo, eu logo soube que iria viciar. O jogo possui um sistema normal, Sargon possui um ataque padrão, um carregado, uma esquiva ou dash, defesa, um arco e parry, nada muito diferente, mas, o personagem passa toda leveza de alguém ágil, mas possuí o impacto necessário para mostrar que os inimigos daquele mundo são uma ameaça para nosso personagem.

Claro que existe outras coisas, mas seria spoiler, então jogue que você verá, porque tem. E ainda soma-se a isso, o fato de o jogo ter uma uma grande quantidade de combos e inimigos que exigem diferentes tipos de abordagem, e pronto, você criou a receita perfeita de um bom combate.

O jogo possuí vários modos de dificuldade, se encaixando perfeitamente naquilo que você acredita que seja capaz de vencer. Eu joguei no difícil por já possuir experiência neste tipo de jogo e gostar de um desafio. E sim, é difícil mesmo. Em alguns momentos o jogo exigiu de mim muita atenção e perícia em determinados movimentos para que conseguisse avançar, principalmente nos chefes principais.

The Lost Crown

E quero dar uma atenção especial para os chefes que para mim, foi a melhor coisa de toda experiência. Não só pelo desafio, mas como eles usam tudo que você consegue fazer naquele momento. Nas basta só sair batendo, desviando e aplicando parry, tudo que conseguiu de habilidades até naquela fase, será necessária para vencer o chefe.

E novamente, isso não algo que reinventa a roda, mas é tão bem feito que empolga e deixa tudo lindo, fazendo você querer sempre mais. Além disso, é nas lutas de chefe que o jogo mostra que apesar do aspecto “jogo menor” que Prince of Persia carrega, ele possuí sim, um alto valor de investimento, com animações de cair o queixo.

Conforme avança da luta, o jogo apresenta cutscenes extremamente inspiradas que parecem até uma luta de anime que é de encher os olhos. Sério, acertar um parry em uma luta de chefe é uma das coisas mais prazerosas que tive com jogos nos últimos anos. Eu fiquei até triste por não ter mais chefes, porque queria mais daquilo.

Além disso, o personagem conta com algumas habilidades extras que ficam disponíveis após encher uma barra de foco, e esses ‘especiais” variam entre golpes focados em dano ou cura. O jogo também conta com um esquema de uso de pingentes, que fornecem atributos, como vida extra, dano a mais, não sofrer dano de determinado elemento entre outros, mas esses atributos são limitados, pois para aumentar seu uso, você deve aprimorar na loja com o uso de um objeto especifico.

Amuletos em Prince of Persia: The Lost Crown

Durante o jogo, você ainda terá que juntar experiência, para melhorar suas armas, arco e a vida do personagem.

Muito conteúdo

Nos últimos anos, os jogos da Ubisoft sofreram muitas críticas devido ao tamanho dos mapas de mundo aberto e sua duração, como os casos dos últimos jogos da série Assassin’s Creed que costumam passar 50 horas de duração fácil. Eu confesso, que isso não é uma coisa que me agrada muito e fico feliz em dizer que não é o caso de Prince of Persia.

O mapa possui um tamanho ideal para o que o jogo quer propor para o jogador, além de conter missões secundárias que mesmo não sendo tão inspiradas quanto as quests principais, são divertidas de se fazer, principalmente em alguns casos especiais que possuem desafios de plataformas. De fato, a equipe de desenvolvimento teve o cuidado necessário para não encher o mapa com atividades desnecessárias, ou um mapa vazio e sem inspiração.

Pelo contrário, apesar de visão 2.5D, os cenários são um espetáculo na parte de background, contendo cenários lindos de fundo e principalmente vivos. Tem um em especial que é simplesmente incrível, mas não irei citar para não estragar a experiência.

The Lost Crown

Além disso, o jogo possuí cenários secretos que você pode acessar e descobrir segredos ou encontrar itens que lhe ajudam a progredir o personagem.

Mecânica nova e necessária

Se existe algo que o jogo conseguiu inovar no gênero foi a criação de uma mecânica simples, mas necessária chamada de memória. Tenho certeza que se você já jogou algum metroidvania na vida, sabe que passa por diversos lugares que em muitos casos não é possível alcançar por conta de uma habilidade que ainda não possui, mas devido a duração e tamanho do mapa, você dificilmente se lembra que lugar é esse.

E para isso eles encontraram uma solução brilhante solução, apertando o d-pad para baixo, é feita uma marcação com foto no local que fica automaticamente registrada no mapa, e sempre que você passar com o cursor, irá aparecer a foto do lugar. Desta forma, fica mais fácil lembrar — por conta da imagem — o porquê daquela marcação, e assim que você adquirir a habilidade necessária, saberá onde ir.

Marcação por foto

Eu achei um acerto formidável e necessário para todos os jogos do gênero e acho improvável daqui para frente todos possuírem este tipo de mecânica.

E os bugs?

Em se tratando de um jogo da Ubisoft é improvável não esperar um caminhão de bugs. Infelizmente, a empresa ficou conhecida entre os jogadores por lançar seus games cheios de problemas bugs, em muitos casos, hilários.

Mas, no caso de Prince of Persia fico feliz em dizer que minha experiência foi ótima. Tive apenas um bug onde a tela congelou na fase e mesmo eu mexendo o personagem eu não conseguia sair daquele local e um crash. Tirando isso, minha experiência foi ótima, tudo funcionou como deveria e os controles foram extremamente precisos ao longo de toda jogatina.

Localizado em PT-BR

Assim como todos os jogos recentes da empresa, Prince of Persia: The Lost Crown está totalmente localizado em português do Brasil, porém, não contém dublagem no idioma.

Achei uma pena não ter, mas não foi algo que trouxe uma decepção ou seja algo que atrapalhe. E, vale salientar que a equipe teve o cuidado de traduzir o jogo para a língua persa, e eu recomendo fortemente ao menos testar a dublagem em persa, principalmente se quiser uma imersão extra — vale a pena.

Melhor jogo da Ubisoft em muito tempo

Digo com tranquilidade que este é o jogo da Ubisoft que mais me divertiu em muito tempo.

Mas além de divertido, Prince of Persia: The Lost Crown é lindo, carismático, desafiador e tem todos os elementos para aguardar os fãs da franquia e também atrair novos jogadores. Até mesmo os que não gostam do gênero podem se divertir graças a sua acessibilidade.

Prince of Persia

Eu tinha muitas expectativas para esse game e todas elas foram superadas, e tenho certeza que determinadas mecânicas apresentadas aqui irão se tornar tendência.

Prince of Persia: The Lost Crown é um jogo incrível e com certeza um dos melhores do gênero que já joguei.


A análise de Prince of Persia: The Lost Crown foi escrita com base em uma cópia de review gentilmente cedida pela assessoria de imprensa do game. Disponível para PC, Nintendo Switch, PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series e Amazon Luna.