Análise Resident Evil 2 – 2019 (PlayStation 4) Claire A

Vinte e um anos após o lançamento da obra original no primeiro console da Sony, a série Resident Evil alcança um novo ápice com o remake de Resident Evil 2, jogo que reúne nostalgia e primor em um produto que beira o impecável.

Assim como Resident Evil 2 tem duas campanhas, também preparamos 2 reviews. Esse é o review baseado na campanha da Claire. Aqui está o review do Leon Kennedy.

Aviso: Esse texto contém pequenos spoilers. Se você já se decidiu pela compra, tudo que você precisa saber está no último parágrafo.

Duas décadas(!) se passaram desde que vi com meu irmão, aquela abertura impressionante com Leon e Claire se esbarrando no meio de uma infestação zumbi, em Racoon City. Algum tempo depois, viria o entendimento de que aquilo era a sequência de um jogo de 1996 e que Biohazard era o nome japonês da série conhecida no ocidente como Resident Evil, mas o “estrago” já estava feito então foi impossível escapar da ansiedade pelo lançamento da nova versão. Primeiro, porque é a reconstrução do que talvez seja o melhor jogo da trilogia original da série e, segundo, feito com o motor em que rodou Resident Evil 7, o recomeço magistral que trouxe a franquia de volta às suas origens como um horror de sobrevivência.

Nem parece que tá sendo perseguida por mortos-vivos.

Move to The City

Em Resident Evil 2 (2019), Claire Redfield vai a Raccon City atrás de seu irmão Chris, membro da S.T.A.R.S., pelotão de elite da polícia da cidade. A RE Engine é muito impressionante e a reconstrução do encontro com Leon no posto de gasolina é de arrepiar. Claire se separa de Leon após uma explosão e consegue entrar na Delegacia de Polícia de Raccon (R.P.D.). Quem jogou a demo de meia hora, vai reconhecer o lugar e saber o que procurar nesse início mas nem tudo é exatamente igual e em pouco tempo estaremos nos esgueirando pelos corredores da delegacia, um cenário arrasado que exibe as consequências de um desastre assustador. Policiais desmembrados, cadáveres amontoados por todos os cantos e todo tipo de destruição aparente, recontam como aquele prédio que deveria servir de refúgio para os sobreviventes, caiu em desgraça. Portas e janelas estão trancadas ou barradas por móveis e pedaços de madeira, não há luz, exceto pelo saguão principal e Claire precisa encontrar um meio de escapar. Um diário mostra que há um caminho subterrâneo que passa pelos esgotos da cidade, mas para acessá-lo, é preciso encontrar certos objetos.

Esse já é o meu papel de parede no PlayStation 4.

Os puzzles foram reconstruídos de modo que todos parecem orgânicos, assim como as anotações espalhadas pelo prédio. Um bom exemplo é o de uma caldeira que levou alguns tiros e agora expele o vapor que impede o avanço pelo vestiário. Todos os elementos estão muito bem amarrados à trama e ao cenário que percorremos. Pra cumprir a missão mais imediata, Claire precisa passar pelo maior obstáculo de todos: o medo. Raros são os lugares intactos na delegacia, a maioria dos corredores é escuro e cheio de mortos-vivos. O som da tempestade que cai na cidade e os ruídos dos monstros grotescos se arrastando ou forçando as janelas são apavorantes. Palmas à Capcom por incluir doses caprichadas de gore, tanto nos modelos das criaturas, quanto nos desmembramentos que acontecem aos montes mais pela necessidade do que por pura estética, afinal, um zumbi sem pernas é menos letal que um inteiro.

Um zumbi é o suficiente pra te matar.

Manipular o avanço dos inimigos é tão possível quanto em Resident Evil 4, mas aqui é bem mais complicado. Os mortos-vivos não se movimentam em padrões e cada tiro fora do alvo é garantia de que o monstro estará mais próximo. A munição é escassa, então é preciso decidir quais zumbis Claire vai apenas desmembrar e quais ela precisa eliminar para não ter problemas no futuro e se toda essa tensão possui algum contraponto, certamente é a satisfação de acertar um tiro na cabeça dos monstros. O impacto da bala, o sangue jorrando e a forma como cada tiro os deixa cada vez mais desfigurados é um deleite que pode chocar pessoas mais sensíveis. Mas esse é só o início e Claire quase nunca está em vantagem nessa história.

Biotech Is Godzilla

Pequenas decisões de design fazem o jogo reagir a Claire enquanto ela avança pela delegacia. Alguns corpos não voltam pra devorá-la imediatamente e mesmo sabendo que eles irão se levantar, a decisão entre seguir o caminho e enfrentá-los depois ou atacar um deles enquanto ainda está caído e ter que enfrentar quem mais estiver próximo pra escutar seus tiros precisa ser tomada. São truques simples que mantém o jogador em estado de urgência pra que raramente se sinta à vontade. O maior deles é um Tyrant (Mr. X), arma biológica produzida pela Umbrella Corp. por meio do T-Virus, conforme mostrado no Resident Evil original, de 1996.

SO-COR-RO!

A aparição dessa criatura é capaz de gelar qualquer jogador que já estivesse se acostumando com o desafio e pressiona Claire a tomar decisões sob pressão, se esconder e sobretudo avançar. O Tyrant faz com que a delegacia volte a ser aterrorizante mesmo após termos passado algumas horas nela. Para a nossa sorte, o layout do lugar, um antigo museu, tem várias passagens que se conectam e mesmo sendo caçados, passamos a conhecer melhor esse labirinto e conforme seguimos, Claire descobre como o desastre começou e que os mortos-vivos são apenas a ponta do iceberg.

Criança é sempre apressada.

No jogo de 1998, a delegacia era a estrela da obra e apesar da trama se desenrolar nas áreas seguintes, nenhum cenário posterior era tão interessante de explorar como a R.P.D.. Nesse novo lançamento, a Capcom conseguiu aproveitar muito bem o que já estava estabelecido e ainda criou uma nova área, mais simples, que se integra muito bem aos personagens da história e ao mistério envolvendo a Umbrella Corp.. Agora todas as áreas da história estão interessantes e assustadoras. Até o maior monstro que Claire precisa enfrentar teve o design melhorado em comparação com o mostrado no PlayStation 1, em que ele parecia apenas uma deformação exagerada.

Back in the Saddle

Resident Evil 2 (2019) não é apenas excelente. Ele representa mais que isso. É um ótimo jogo dessa geração, sem bugs ou quedas de quadros e com gráficos que beiram o fotorrealismo – eu joguei no meu PS4 regular; é, provavelmente, o melhor Survival Horror disponível nos consoles hoje e é um atestado de como a Capcom vem tratando bem suas franquias e, principalmente, seus consumidores. Numa época em que algumas empresas lançam produtos baratos baseados suas franquias quase como forma de enganar os fãs, o carinho que a Capcom tem dispensado à franquia Resident Evil e aos fãs é digno de nota. Resident Evil 2 é obrigatório para qualquer fã de videogames e se você já é fã do jogo de 1998, não perca tempo: compre e jogue.

Diego Matias
Além dos reviews, escrevo no Riffs & Solos e faço vídeos com meu irmão no canal SuperContra. Passa lá!