Análise Legend of Mana (PlayStation 4)

Legend of Mana é um clássico do gênero JRPG lançado em 1999 para o PlayStation original e que agora ganha uma nova roupagem para ser relançado em 2021.

Logo do jogo Legend Of Mana

A franquia “Mana” da qual fazem parte Secret of Mana, Trials Of Mana (lançados originalmente para o Super Nintendo) e outros títulos menos famosos, ficou notória na década de 1990 por quebrar a tradição dos jogos de RPG japoneses da Square (atual Square Enix) e trocar a batalha de turnos e apresentar um combate em tempo real, como em um jogo de ação. Lançado ainda nos anos 1990, mas para o primeiro PlayStation (consequência da famosa ruptura da Square com a Nintendo), Legend of Mana manteve o combate em tempo real, mas adicionou outros elementos que fazem do jogo um produto peculiar no ecossistema de JRPGs.

Árvore Mana
A Árvore de Mana, objeto central da franquia.

No jogo, assumimos o controle de uma protagonista silenciosa e somos convidados a explorar o mundo de Fa’Diel. Tudo normal, não fosse por um detalhe: o mundo não existe e você precisará criá-lo à medida que avança na campanha. Esse é um dos sistemas únicos de Legend of Mana em que podemos posicionar artefatos no mapa e fazer nascer ali cada um dos mapas a serem visitadas no jogo. Dessa forma não existe uma linearidade na campanha, pois os mapas podem ser acessados na ordem que o jogador quiser e dificilmente duas pessoas irão ter a mesma experiência com Legend of Mana.

Mapa Mundi de Legend of Mana
Cada uma das fases é posicionada no mapa pelo próprio jogador.

Especificamente, a premissa da campanha é bastante simples. Devemos buscar a restauração da Árvore de Mana que, séculos atrás, foi reduzida à cinzas. Nessa busca encontramos vários personagens em uma estrutura de narrativa também peculiar, pois a história é cobrada por meio de pequenas side-quests que, a princípio, não possuem correlação uma com a outra, como se Legend of Mana fosse um livro de contos que se passam no mesmo universo e estão ligados de uma forma mais abstrata ao tema central. Alguns desses contos são bastante interessantes, com personagens fofos ou carismáticos, mas no geral, a sensação de estarmos perdidos dentro do jogo, não sabendo se estamos ou não avançando na história principal.

Legend of Mana Boss
Cada missão pode ser jogada com um acompanhante diferente (ou sem nenhum).

Para contar essas histórias, Legend of Mana oferece boas ferramentas de jogabilidade. Logo de início podemos escolher entre dois protagonistas disponíveis e uma arma com a qual iniciaremos o jogo. O combate em tempo real é bacana, dentro do contexto de 20 anos atrás, com desbloqueio de novas habilidades pelos personagens à medida em que usamos armas diferentes (cada uma tem seus próprios golpes especiais). Um ponto negativo é a ambientação e em 2D que atrapalha um pouco no momento de acertar alguns golpes, principalmente em grupos de inimigos. As batalhas acontecem em encontros aleatórios durante a exploração dos cenários e, embora não possam ser evitadas, essa remasterização traz a opção de desativá-las por completo, deixando somente as batalhas relevantes para a história.

Golpe especial em Legend of Mana
Conforme usamos uma arma, novas habilidades são desbloqueadas.

Falando em melhorias, esse relançamento conta com várias. Além da mencionada possibilidade de desligar os encontros com inimigos, a versão recém lançada possui facilidades para utilização do modo cooperativo local e salvamento do jogo, que passou a ser automático. A trilha sonora também foi rearranjada, sendo possível trocar a qualquer momento entre a nova trilha e a original.

A Árvore Trent
A arte de Legend of Mana mistura cenários pintados com pixel art nos personagens.

Legend of Mana também conta com gráficos retrabalhados para as resoluções atuais dos monitores/televisores e assim como no jogo original, mescla cenários pintados com arte em pixels para os personagens e menus. É uma mistura interessante de abordagens artísticas que funciona bem dentro das fases, mas causa uma certa estranheza no mapa do mundo e nos balões de diálogos. Inclusive, o cenário estático e todo pintado, às vezes é difícil encontrar uma porta ou item interativo no meio de tantas cores. Podemos também acessar uma enciclopédia detalhada de personagens e inimigos, onde podemos visualizar melhor cada um deles e entender melhor transposição da arte para os pixels na tela.

Mapa de uma cidade em Legend of Mana
Os mapas do jogo exaltam o estilo artístico.

Não bastassem as particularidades em relação a criação do mundo e a maneira não-linear que a história é contada, Legend of Mana tem um sistema de treinamento de “pets” que além de acompanhar a protagonista nas aventuras como membro da “party” também podem participar de um mini-game chamado “Ring Ring Land”, onde os bichinhos são treinados e sobem de nível para auxiliar nas quests.

Pets em Legend of Mana
O sistema de Pets é mais uma mecânica única de Legend of Mana

O relançamento de Legend of Mana é um prato cheio para os fãs do jogo original e, na minha opinião mais pessoal, um bom trabalho para permitir que as gerações mais novas entrem em contato com a linguagem do JRPG desenvolvido na primeira geração do PlayStation, com peculiaridades nos menus do jogo e na abordagem quase infantil da fantasia (muito embora exista uma erotização desnecessária de personagens na cena inicial do jogo).

As melhorias gráficas e auxílios de gameplay, entregam uma experiência agradável, mas não transformam Legend of Mana em algo diferente do que ele sempre foi. A escolha feita há 22 anos atrás de contar uma história por meio de vários contos e utilizar metáforas com a ampliação do mundo pelo olhar da protagonista ainda reverberam nesta obra – para o bem e para o mal.

Legend of Mana foi desenvolvido e publicado pela Square Enix e está disponível para PC, PlayStation 4 e Nintendo Switch.

A análise foi feita com base em uma cópia digital de PlayStation 4 gentilmente cedida pela desenvolvedora.

Tiago Matias Escobar
Metaleiro não uniformizado. Cerveja, pizza, games e viagens ocasionais.