Análise Generation Zero (PlayStation 4)

Generation Zero é um FPS lançado de forma independente pela Avalanche Studios que mistura combate contra robôs, Guerra Fria e a atmosfera retrô dos anos 80.

GenerationZero

Dos jogos anunciados para esse início de 2019, um projeto independente/autoral do estúdio Avalanche foi um dos que mais me chamou a atenção pela mistura de alguns elementos de que gosto muito: visual de cinema dos anos 80, robôs e campanha cooperativa. O resultado da junção dessas peças é Generation Zero, um FPS cooperativo que conta um passado alternativo para a Suécia durante a Guerra Fria, em que máquinas se tornam insurgentes e o destino do país recai sobre as mãos de um grupo de adolescentes.

A introdução que apresenta esta ambientação alternativa já nos dá o tom simples e o clima de mistério e nostalgia que irá acompanhar a campanha de Generation Zero. Após um letreiro que explica como os jovens suecos foram treinados com equipamentos militares para resistir a uma invasão soviética temos a primeira visão do estilo proposto pelo jogo na tela de criação de personagens que é basicamente um gerador aleatório de personagens clichês oitentistas. Podemos escolher entre algumas opções pra montar nosso boneco que poderá ser líder de torcida ou um metaleiro, por exemplo.

Tela de criação de personagem em Generation Zero
Já vi esse rapaz em algum filme…

Após se equipar com uma pistola, uma lanterna e alguns sinalizadores, o jogo nos coloca numa trilha de missões para descobrir a única coisa que importa: onde foi parar todo mundo? As casas na ilha de Iboholmen estão todas vazias e os carros abandonados nas ruas. Apenas máquinas habitam o pequeno arquipélago onde estamos e elas são letais.

O ciclo de jogabilidade de Generation Zero é bastante simples. Alternamos o tempo todo entre três ações: procurar equipamento, investigar locais e eventos e combater ou fugir. O mapa é belíssimo e, embora eu tenha a impressão de que joguei muito mais à noite do que durante o dia, a Apex Engine – não confundir com Apex Legends – é muito competente para entregar tanto este ciclo diário como os efeitos atmosféricos. Avançar pelo meio da floresta, seja pra caçar robôs ou fugir deles, é certamente um deslumbre visual durante a chuva, neblina ou mesmo durante um dia claro. Uma pena que as casas não possuam uma variedade muito grande de modelos. Generation Zero é, no fim das contas, um jogo independente da Avalanche.

Caça e Caçador

Voltando ao combate, o jogo nos coloca em desvantagem desde o primeiro encontro com as máquinas mais básicas, os Corredores. Armados apenas com o que encontramos de início – se procurar bem, é possível encontrar uma escopeta – precisamos lidar com robôs bastante ágeis que atacam à distância usando metralhadoras e de perto com ataques físicos e uma espécie de disparo sônico. Não demora muito pra perceber que sair atirando não é uma opção vantajosa e o melhor a fazer é atacá-los nos seus pontos fracos.

Mesmo tendo aprendido que mais valioso do que tentar transformar o robô em sucata na base da bala seria acertar o tanque de combustível dele, mais elementos entram na equação. Os robôs possuem sensores que podem identificar ruídos então cada tiro disparado aumenta a chance de atrair outras máquinas para entrar na briga. Pequenas ou grandes. O avanço nas ilhas e posteriormente a entrada no continente fica gradativamente mais desafiador conforme mais tipos de robôs aparecem guardando povoados, em torno de bunkers, estradas ou em torno de bastões de transmissão espalhados pelo mapa. Conforme avançamos também encontramos armas em melhores condições com desempenho cada vez melhor. Absolutamente necessárias para enfrentar máquinas maiores.

Outra coisa que contribui para a adoção de estratégia é que nosso personagem é frágil e só pode contar com kits de primeiros socorros ou com bastões de adrenalina, que dão a opção de levantar após caído. A adrenalina é consumida automaticamente se você decidir reviver quando estiver no chão, já os kits médicos… Esses são a ponta do novelo que é o gerenciamento de inventário nesse jogo e que nos levará ao aspecto menos polido dele.

3 x 4

Sendo um jogo desenvolvido por um time pequeno Generation Zero carece de algumas melhorias que facilitariam a vida do jogador e aqui confesso que não sei se é por limitação ou design mas o espaço limitado do inventário e a necessidade de atribuir consumíveis a uma comando cada vez que ele voltar a ser obtido pelo jogador faz o gerenciamento dos itens algo que chega a ser frustrante e que certamente vai irritar jogadores mais impacientes. Lembra como em Horizon Zero Dawn – pra ficar no tema de robôs e zeros – era simples navegar entre os tipos de armadilha e o botão de cura estava sempre ao alcance de um toque? Aqui é bem o oposto. Tudo precisa ser escolhido deliberadamente repetidas vezes durante a exploração. Quer coletar mais kits médicos mas não tem mais espaço? Abra o menu, verifique se é possível empilhar munições do mesmo tipo ou atribuir um item a um dos direcionais temporariamente só pra liberar um quadro. Se isso é uma simples falha, espero que seja melhorado, se for decisão de design pra deixar o jogo meticuloso e forçar o jogador a se preparar antes dos combates, foi uma decisão bastante corajosa, mas ali bem no limite da coragem mesmo.

Tela de Generation Zero
A Suécia digital é linda

Além desses pequenos inconvenientes, o jogo tem bugs. De missões que não registram que foram completadas até uma parede invisível logo no início do jogo  Mesmo sabendo que serão resolvidos em breve, fica o desejo de que sequer existissem.

I Need Your Clothes, Your Boots and Your Motorcycle

Essa última relação de problemas resultaria em fiasco para qualquer jogo com pretensões maiores na indústria – certo jogo sobre distopia nuclear não me deixa mentir – e apesar de chacoalhar o lançamento de Generation Zero, ele possui muito mais qualidades pra serem celebradas. A atmosfera criada pela música que parece misturar Vangelis com John Carpenter e os cenários lindos colocam esse jogo em um espectro de muito mais mistério do que ação. A perseguição meticulosa aos objetivos e robôs – aquele level não vai subir sozinho – por vastos cenários ora vazios, ora controlados por máquinas que mais parecem monstros pode ser solitária, instigante e ameaçadora quando sozinhos e catártica quando estamos jogando com amigos.

tela do grupo formado por 2 jogadores
Dupla oitentista

Generation Zero está sendo vendido na loja da Sony por quase metade do preço de um lançamento e é uma experiência bastante imersiva e gratificante. Mais ainda com a possibilidade de jogar em modo cooperativo. Fique de olho nas atualizações porque os desenvolvedores está prometendo mantê-lo vivo por bastante tempo.

Diego Matias
Além dos reviews, escrevo no Riffs & Solos e faço vídeos com meu irmão no canal SuperContra. Passa lá!